El Senhor Galíndez como ‘romance de formação’ – a ‘escola de quadros’ da maquinaria de saqueio capitalista
Texto: André Queiroz
Aguarde, carregando...
Mais de 300 mil mulheres foram esterilizadas sem consentimento
Mais de 500 mil pessoas, principalmente camponeses, foram esterilizadas de maneira força durante o governo de Fujimori. Crime de lesa-humanidade.
O povo peruano está em luta nas ruas. E tudo isso porque o atual presidente do país, Pedro Pablo Kuczynski, decidiu indultar o ex-presidente, ditador, Alberto Fujimori, que havia sido condenado em 2007 a 25 anos de prisão por conta de violação de direitos humanos, e crimes de lesa-humanidade, durante seu regime. Fujimori ocupou a presidência no Peru durante uma década, de 1990 a 2000. Foi eleito derrotando o escritor Mario Vargas Llosa. Dois anos depois, em abril de 1992, veio o golpe. Apoiado nas Forças Armadas, Fujimori dissolveu o Congresso, fechou o Poder Judiciário, o Ministério Público, o Tribunal Constitucional e o Conselho da Magistratura. Governou com mão de ferro.
Seu governo foi marcado pela violência e pela corrupção. Destruiu o serviço público, abriu todas as portas ao setor privado, conseguindo com isso um crescimento econômico para o país, todo ele calcado na austeridade para a maioria e no terror aos opositores. Mandou matar centenas de pessoas acusadas de terrorismo e é conhecida a matança de trabalhadores em La Cantuta (15 mortos, inclusive uma criança) e Barrios Altos (nove mortos). Investiu contra os estudantes e seus aparatos de repressão também assassinaram muitos jovens.
Mas, o crime que até hoje assombra o mundo foi ter mandado esterilizar mais de 300 mil mulheres, de maioria indígena, sem que elas soubessem, bem como 200 mil homens, indígenas e camponeses. Era sua política de estancar a pobreza. Esse horror foi efetuado entre os anos de 1996 a 2000, dentro do Programa Nacional de Saúde Reprodutiva e Planificação Familiar, o qual em vez de orientar e proteger, realizava esterilizações, sem qualquer consentimento. O programa foi aplicado em Lima, Piura, Cusco, Ayacucho, San Martín, Ucayali e Loreto e até hoje suas consequências são sentidas pelas famílias. Muitas mulheres acabaram adoecendo e algumas até quebraram os vínculos familiares, afetadas pela violência de não poder mais transmitir seu legado cultural. Entre os homens também se reporta muito sofrimento, pois alguns deles não conseguem suportar a ideia de não poder gerar filhos.
E foram justamente essas mulheres violentadas as primeiras a saírem às ruas depois do anúncio do presidente PPK sobre o indulto ao ex-ditador. A presidenta da Associação de Mulheres Peruanas Afetadas pelas Esterilizações Forçadas, Rute Zuñiga, declarou que a decisão de PPK é mais uma violência contra essas mulheres que ainda lutam por reparação e justiça. Ela espera que o mundo não permita esse deboche e essa covardia. Ela lembra que em encontro com PPK, então candidato, ele se comprometeu em apoiar a indenizar as mulheres afetadas, coisa que nunca se cumpriu. “Os crimes de Fujimori são de lesa humanidade. Não há perdão”. Importante lembrar que também 200 mil homens foram esterilizados de maneira forçada.
Video of Víctimas de esterilizaciones forzadas en Perú protestan indulto a Fujimori
O presidente peruano alegou que o indulto se deu por motivos humanitários, visto que Fujimori se encontra doente, no hospital e impressionou as gentes ao chamar de “erros” todas as ações de violência e assassinatos cometidos durante a década de governo do ditador. É que, na verdade, o indulto fez parte de um acordo que garantiu a vitória de PPK no processo de impedimento que vinha sofrendo por corrupção. Foram os votos dos fujimoristas que garantiram a permanência do presidente no poder. E, apesar de ele ter garantido na campanha que não iria perdoar Fujimori, acabou aprovando a liberdade do ditador.
As organizações sociais que se manifestam nas ruas em grandes protestos contra o indulto à Fujimori denunciam a decisão de PPK, que vem na direção de frear as lutas que acontecem no país, amarrando acordo com os grupos de direita ligados ao fujimorismo. Desde que assumiu o governo, PPK enfrenta protestos contra a corrupção e contra o modelo neoliberal de governo que se constitui num saque das riquezas nacionais e no aprofundamento da recessão para a maioria dos trabalhadores.
Os movimentos políticos e populares estão chamando à desobediência civil, buscando centrar a luta na construção de uma nova República que traga com ela um projeto nacional e uma nova Constituição. Renegam os partidos que hoje conformam o espectro partidário peruano, considerando-os todos parte do mesmo sistema e começam a formular a necessidade de uma Assembleia Nacional Constituinte soberana.
Um vídeo do ex-ditador, na cama do hospital, pedindo perdão aos peruanos não foi capaz de comovê-los. Quem viveu os anos 90 sabe do clima de terror e de medo no qual foi mergulhado o país. Os peruanos organizados em movimentos sociais não aceitam mais esse golpe e prometem resistir.
Nessa segunda-feira, uma gigantesca marcha aconteceu na capital, Lima, e a repressão foi grande. A palavra de ordem é o rechaço ao indulto e a exigência da saída imediata do presidente PPK. Durante a marcha, os manifestantes buscavam chegar até a frente do hospital onde está o ex-ditador, mas a polícia impediu. Isso porque lá na frente estava também uma manifestação de pessoas que simpatizam com o ditador, celebrando a libertação do seu líder.
Protestos em Lima – Foto: El mundo
Texto: André Queiroz
Texto: Maicon Claudio da Silva
Texto: Rafael Cuevas Molina - Presidente AUNA-Costa Rica