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Porto Alegre sedia o II Encontro Nacional da REBELA

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Por IELA em 15 de janeiro de 2015

Porto Alegre sedia o II Encontro Nacional da REBELA

Porto Alegre sedia o II Encontro Nacional da REBELA
30.05.2011 – Pela segunda vez, pesquisadores ligados a Rede Brasileira de Estudos Latino-Americanos (REBELA) estiveram reunidos para debater os resultados dos estudos que vêm desenvolvendo. O primeiro encontro aconteceu em Florianópolis, em outubro de 2009, organizado pelo IELA, já esta segunda edição foi coordenada pelo Núcleo de Pesquisa Organização e Práxis Libertadora, da Escola de Administração da UFRGS, em Porto Alegre, nos dias 12 e 13 de maio. O debate foi marcado pela certeza de que o Brasil não está mais de costas para a América Latina. Como o continente vive uma conjuntura ativa e original, cada dia que passa mais gente mostra-se interessada em conhecer melhor a realidade dos demais países que formam este espaço geográfico. Não só pesquisadores, mas também empresários, administradores, cientistas sociais, sindicalistas,  etc…
Assim, representantes de importantes universidades brasileiras, que já desenvolvem estudos sistemáticos na área de América Latina, debateram temas que hoje se configuram extremamente cruciais para se pensar criticamente o Brasil e o continente em geral. Cerca de 20 pesquisadores apresentaram seus trabalhos e, apesar da distância geográfica entre um e outro, ficou bastante marcada a unidade temática e teórica, mostrando que a REBELA está bastante afinada na sua perspectiva de realizar a análise da realidade latino-america dentro dos marcos do pensamento próprio. É certo que há a primazia de alguns temas em detrimento de outros e, por vezes, algumas incompreensões em virtude da proposta trans-disciplinar, mas, nada que encontros sistemáticos não aprofundem e solucionem.
Esta segunda edição do encontro presencial da REBELA reforçou ainda mais o vínculo com os autores e influências marcadamente latino-americanas. Dentre os temas apresentados, apareceram com mais força as questões ligadas ao desenvolvimentismo ou o neodesenvolvimentismo, muito em voga nos dias atuais, principalmente no Brasil. Vários foram os trabalhos apresentados envolvendo essa temática, desde a discussão crítica do conceito, recuperação de importantes autores nacionais como Florestan Fernandes e Celso Furtado, até a proposta de busca de um novo conceito para designar a organização da vida neste continente. O movimento indígena também apareceu com força, visto que é hoje um dos mais importantes espaços de discussão deste modelo de desenvolvimento que o capitalismo impôs à América Latina, em parceria com as elites locais. Conceitos como o sumac kausay, sumac camaña, terra-sem-males e outros se fizeram ouvir no contraponto às propostas desenvolvimentistas.
Outros estudos com ligações viscerais junto à vida cotidiana e aos problemas concretos brasileiros também apareceram nos trabalhos. A discussão da água como mercadoria e todo o processo que envolve a dominação transnacional sobre esse bem que deveria ser comum e não privado, discussões sobre a lógica do consumismo e como isso está ligado à Teoria da Dependência aos moldes da que foi proposta por Ruy Mauro Marini. Questões do mundo da administração ligadas à vida organizativa das comunidades e dos movimentos sociais, a problemática dos Quilombos, espaços de resistência do povo negro, análise das implicações da entrada de movimentos revolucionários na órbita da institucionalidade, enfim, uma série de temas e propostas de estudo, vinculadas aos problemas reais e atuais de “Nuestra América”.
A formação da Rede, proposta pelo IELA ainda em 2009, buscava exatamente esses resultados que já se produzem, tais como a unificação de um programa de pesquisa sobre a realidade social do continente que compartilhe os mesmos pressupostos teórico-metodológicos e o mesmo horizonte político, buscando o rigor científico, pensamento crítico e a conquista de um continente soberano, unificado e pós-capitalista, no terreno da política.
Participar da REBELA não é tarefa fácil e tampouco serve a pesquisadores eventuais. A condição básica para estar vinculado organicamente à Rede é a de que os grupos e pesquisadores autônomos – para além dos encontros nacionais – mantenham seminários, disciplinas, projetos e iniciativas intelectuais de maneira permanente, nas suas universidades de origem, na graduação e no sistema de pós-graduação. Isso significa que não é projeto reservado aos “modismos” e implica em reconhecer a própria região – marcada pela dependência e o subdesenvolvimento – como um objeto de estudo que merece a reflexão sistemática relativamente aos grandes problemas políticos, econômicos, sociais e culturais, sempre analisados a partir de uma ciência própria, que evite o eurocentrismo, tendência dominante nas ciências sociais.
“Na corrente do pensamento crítico que marcou época em décadas anteriores em muitas universidades latino-americanos, o programa de pesquisa que é unificado na REBELA reconhece a dependência como o principal problema da região, razão pela qual nenhum dos graves problemas sociais poderão ser resolvidos sem a superação da mesma, que perpetua o subdesenvolvimento. As sucessivas ondas modernizantes, impulsionadas de fora para dentro, e aplicadas sem reservas a partir do Estado latino-americano, não somente são incapazes de resolver os problemas da desigualdade e da injustiça, senão que são precisamente as causas pelas quais essas características se perpetuam sem solução definitiva em curto prazo”, explica Nildo Ouriques, idealizador da REBELA.
Os centros filiados na REBELA estão, portanto, comprometidos a dialogar nesta linha de pesquisa, consolidando, nas universidades brasileiras, estudos sobre a realidade latino-americana relacionados a qualquer aspecto da vida social. Manter estes estudos tampouco é coisa fácil visto que estão sempre sujeitos às restrições da política oficial, que sequer mantém linhas de pesquisa na área. “A situação da América Latina, marcada nos últimos anos pelo crescimento da luta de massas, requer a cada dia uma atitude intelectual, rigorosa em termos teórico-metodológicos, e, ousada na política, contribuindo para a recuperação de um tipo de intelectual que não teme compromisso com seu povo e possui clareza de que a relação entre conhecimento e política não admite a hipótese da neutralidade científica”, enfatiza Ouriques.
Esta nova situação política da América Latina, resultado da modernização capitalista impulsionada a partir da solução capitalista à crise da dívida externa no início da década de oitenta, colhe agora os frutos da rebeldia e da contestação. A função da teoria neste momento é, então, decisiva. Os adversários ao rigor teórico não residem exclusivamente na universidade latino- americana, mas inclusive no seio do próprio movimento popular que, não ingenuamente, também cultiva certo ranço anti-intelectual que tem sido nocivo para consolidar mudanças que favoreçam as maiorias latino-americanas. Mudar isso é tarefa da REBELA.
No segundo encontro, em Porto Alegre, a rede avançou mais alguns passos nessa direção. Organizado dentro da Faculdade de Administração, ainda contou com a presença do politólogo argentino Atílio Borón, que, além de apresentar um bem acabado panorama dos estudos latino-americanos nas Ciências Sociais, participou ativamente dos debates internos. Conforme avalia a professora Maria Ceci Misoczki, uma das organizadoras do evento, a manutenção sistemática dos encontros da Rede será de fundamental ajuda no processo de construção de uma nova mentalidade que se abra para os trabalhos intelectuais, sem nunca desvincular-se da vida concreta e dos problemas reais. Além disso, estabelecer uma dinâmica como esta, de encontros também abertos à participação dos demais estudantes e professores, pode proporcionar o aumento de estudos vinculados à América Latina.
Ao final, foi apresenta a versão final do primeiro número da Revista Brasileira de Estudos Latino-Americanos, produzida pelo núcleo de Porto Alegre, com as professoras Maria Ceci Misoczki, Sueli Goulart e o aluno de mestrado Guilherme Dornellas Câmara. A revista deve ser lançada agora em junho, aglutinando todos esses pensares que se expressam na REBELA. PARTICIPAM DA REDE BRASILEIRA DE ESTUDOS LATINO-AMERICANOS FURB/Fundação Universidade Regional de BlumenauUEL/Universidade Estadual de LondrinaUEM/Universidade Estadual de MaringáUEPB/Universidade Estadual da ParaíbaUFCG/Universidade Federal de Campina GrandeUFES/Universidade Federal do Espírito SantoUFPE/Universidade Federal de PernambucoUFSC/Universidade Federal de Santa CatarinaUNIOESTE/Universidade Estadual do Oeste do Paraná – CascavelUFRGS/Universidade Federal do Rio Grande do SulUFJF/ Universidade Federal de Juiz de ForaUFF/ Universidade Federal FluminenseUFRJ/ Universidade Federal do Rio de Janeiro – Lema
 Atilio Borón deu sua contribuição falando sobre o estado dos estudos sobre América Latina hoje

Pesquisadores do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul

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