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Tráfico de droga: uma das forças motrizes da economia dos EUA

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Por Hernando Calvo Ospina - jornalista em 27 de agosto de 2025

Tráfico de droga: uma das forças motrizes da economia dos EUA

O país mais importa, vende, compra e consome cocaína no mundo enviou quatro mil homens para a costa da Venezuela dizendo “combater” o narcotráfico. 

Quando soube que Trump queria enviar uma flotilha de navios de guerra e milhares de fuzileiros para as Caraíbas, supostamente para travar o fluxo de cocaína para o seu país, imaginei imediatamente que se posicionariam na costa colombiana. Errado: o objetivo não era outro senão sitiar a Venezuela. Porque, segundo Washington e as suas campanhas de propaganda, seria da pátria bolivariana que os venenos que devastam a juventude dos Estados Unidos e da Europa fluiriam em torrentes inesgotáveis.

Lembrei-me então do duplo critério que o governo dos Estados Unidos sempre manteve sobre esta questão: uma relação íntima, quase carnal, com o narcotráfico e os seus lucros colossais, enquanto nos bastidores orquestram cruzadas mediáticas e guerras estrondosas supostamente para combater esse mesmo comércio.

Um breve flashback é suficiente para recordar o primeiro romance apaixonado de Washington com o tráfico global de droga (sem mencionar as relações acesas posteriores no Vietnam, Laos, Camboja, Colômbia, Nicarágua e Afeganistão).

O encontro do ópio

Os chineses chegaram aos Estados Unidos em grande número em meados do século XIX. Fugiam das guerras, das fomes e das epidemias, fruto do apetite económico do Império Britânico. Em particular, fugiam às consequências daquela que ficou conhecida como a Primeira Guerra do Ópio (1839-1842). A Companhia Britânica das Índias Orientais era uma organização semi-estatal com colossais poderes militares e administrativos sobre vastos territórios na Índia, mas sob a plena autoridade da Coroa Britânica. A Companhia tinha estabelecido uma enorme produção de ópio nesta colónia, que introduziu na China, criando assim um gigantesco mercado tóxico.

Milhões de chineses foram escravizados pelas drogas, levando à desintegração da sua sociedade e à asfixia da sua economia. O imperador, ciente do desastre, tentou restringir o comércio e o consumo no final da década de 1830. Mas Londres ignorou as suas proibições e continuou a inundar o país. Quando, em 1839, as autoridades chinesas começaram a confiscar os carregamentos, a Rainha Vitória obrigou os chineses, com tiros de canhão, invasões e mortes, a aceitar o seu consumo: os lucros iriam fortalecer a economia britânica, e tal não podia ser contestado. Tudo isto em nome do que já estava a ser apelidado de “livre comércio”. Derrotada e humilhada, a China foi obrigada a ceder Hong Kong em 1842, a abrir vários dos seus portos aos comerciantes e a compensar os comerciantes britânicos pelas alegadas perdas económicas sofridas durante a guerra.

A Segunda Guerra do Ópio (1856-1860) foi apenas uma repetição ainda mais brutal: a China foi novamente esmagada. Os países ocidentais que tinham apoiado Londres neste conflito desigual, principalmente a França, foram convidados para a mesa das negociações. O governo chinês foi obrigado a continuar a tolerar o consumo massivo de ópio. Estima-se que cerca de 40 milhões de chineses tenham sido viciados até ao final do século XIX, criando uma crise social, sanitária e económica sem precedentes. E, espera-se, impossível de ser reproduzida.

O dinheiro que molda o mundo

Mas como poderia alguém abdicar de tais lucros? Em 1865, para gerir a inundação de capital proveniente do comércio de ópio, foi fundado em Hong Kong o Hongkong and Shanghai Banking Corporation (HSBC), ainda hoje um colosso financeiro global, com sede em Londres. Estima-se que 70% do tráfego marítimo de Hong Kong estivesse ligado ao ópio! O HSBC não só lavou fortunas incalculáveis, como também ajudou a expandir a rede bancária e comercial britânica por toda a Ásia, que ainda hoje influencia a economia global.

Parte destes lucros incalculáveis ​​deixados pelo vício de drogas de milhões de pessoas na China e no mundo foram para França.

Mas os Estados Unidos também tiveram a sua quota-parte, sem participar militarmente.

Ansiosos por consolidar o seu papel de potência em ascensão, os americanos, por sua vez, forçaram as autoridades chinesas derrotadas a assinar o Tratado de Wanghia em 1844, que abriu os portos a comerciantes sem controlo e legalizou de facto o tráfico de ópio. A Russell & Company, uma casa comercial americana com sede em Cantão (hoje Guangzhou), foi diretamente beneficiada. Especializada no comércio de chá, seda e… ópio, esta empresa desempenhou um papel importante no tráfico e na venda de ópio indiano na China, chegando a coordenar a cadeia de abastecimento da Turquia.

Nas décadas de 1820 e 1830, ela trouxe cerca de 1 500 caixas de ópio por ano para a região de Cantão: cada caixa continha cerca de sessenta quilos. Ou seja, dois milhões de dólares, uma enorme fortuna para a época!

Por isso, era lógico que a Russell & Company dessem total apoio aos britânicos no lançamento da guerra contra a China. E depois convencessem o presidente Franklin Pierce a dar total apoio diplomático aos britânicos e franceses durante a Segunda Guerra do Ópio, ao mesmo tempo que pressionavam e chantageavam o governo chinês.

Seria necessária uma imaginação sem limites e muitos números para calcular a extensão dos lucros acumulados pela Coroa Britânica com o tráfico de ópio, sob a liderança de Sua Majestade Vitória, que se tornou a primeira e maior traficante de droga da história da humanidade. Capo di tutti capi.

O comércio de ópio e a pilhagem da China tornaram os acionistas da Russell & Company multimilionários. Estes acionistas eram cidadãos americanos proeminentes e respeitados, como Warren Delano Jr., avô do presidente Franklin D. Roosevelt.

Assim, o ópio, considerado como ouro, engordava também os cofres das finanças dos Estados Unidos.

Tudo isto confirmou aos Estados Unidos que fazer guerras e saquear pessoas, sob qualquer pretexto, era excelente para a sua economia.

[*] Hernando Calvo Ospin a é jornalista e escritor colombiano, radicado em França.
O original encontra-se em www.legrandsoir.info/le-trafic-de-drogue-un-des-moteurs-de-l-economie-etasunienne.html

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