Fascismo Gestual, Luta de Classes
Texto: Gilberto Felisberto Vasconcellos
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Foto: rawpixel.com
O governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump, mobiliza seu poderio militar no Caribe, vangloria-se disso e zomba da organização popular preparatória que sua bravata provoca na Venezuela.
Sua desculpa para esse movimento é que está combatendo o narcotráfico e, para isso, bombardeia e pulveriza embarcações que alega serem provenientes da Venezuela, mas ninguém consegue provar que saíram daquele país ou que transportavam drogas.
Embora pudesse detê-los, confiscar a carga, prender a tripulação e obter informações que certamente seriam valiosas para atingir o objetivo que alega perseguir, não o faz.
O mínimo que se pode dizer sobre tudo isso é que é suspeito, e ninguém sabe ao certo para onde vai essa atitude belicosa, arrogante e provocativa. O que se pode afirmar inequivocamente é que os Estados Unidos devem ser punidos por manterem essa atitude de confronto que alarma e perturba a vida normal dos países que assedia.
Essa política de confronto é publicamente apoiada pela líder da oposição venezuelana María Corina Machado, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz na sexta-feira. Isso não é surpreendente: os dias em que a Europa mantinha posições, se não divergentes, pelo menos distintas, na política internacional já se foram. Hoje, ela não passa de um vagão de vagão na política belicista dos EUA.
Em Cuba, outro país assediado há sessenta anos, cujo bloqueio foi intensificado durante os dois mandatos de Donald Trump, a situação é terrível. Nenhuma nação suportou tais condições por tantos anos. Nenhuma empresa de navegação, banco ou indústria ousa negociar com Cuba porque serão imediatamente atingidos por sanções que causarão perdas, às vezes irreparáveis.
Os Estados Unidos assumem o poder de punir um país por este não compartilhar sua forma de organização social e política. Simbolicamente, todos os anos, a grande maioria da comunidade internacional condena o bloqueio da ONU. Apenas os Estados Unidos, Israel e alguns aliados temporários não o fazem, mas tudo continua igual, talvez até pior.
Agora, a Venezuela está sofrendo. Aqui também, nenhuma companhia de navegação, banco ou indústria ousa negociar com ela. Seu principal produto de exportação, o petróleo, está bloqueado. O resultado? Uma piora da situação econômica. Milhares de venezuelanos são forçados a migrar, mas os Estados Unidos, após causarem a situação que levou ao seu êxodo, os rejeitam.
Por essas razões, dizemos que Trump é um valentão, mas a verdade é que o valentão são os Estados Unidos. Também é verdade, no entanto, que Trump está levando as coisas mais longe: o estacionamento provocativo, semelhante a um combate, de navios e aeronaves de guerra a apenas 19 quilômetros da costa da Venezuela, e agora o pedido a Granada para estacionar forças militares lá, são intoleráveis e devem ser condenados por unanimidade.
Mas muitos temem o louco Trump. Se demonstrassem solidariedade, ele poderia responder impondo tarifas que colocariam algumas de nossas pequenas e dependentes economias em apuros. Juntos, a história seria diferente, mas já sabemos a posição da América Latina. Como estes dias marcam mais um aniversário da morte em combate e assassinato de Che Guevara na Bolívia, vamos citá-lo sobre o assunto: “Se todos fôssemos capazes de nos unir (…) quão grandioso seria o futuro, e quão próximo!”
Assim, os dois países sitiados estão angariando apoio em países que também estão em oposição ou mesmo em confronto com os Estados Unidos: Rússia, Irã e China. O que os governantes americanos chamam, em sua visão dicotômica em preto e branco, de “o império do mal”.
Essa situação não ocorre apenas nesses casos extremos. Outros países também buscam se associar fora da esfera de influência dos EUA para tentar encontrar maneiras mais razoáveis e justas de se relacionar, colaborar e negociar. Este é o caso dos BRICS, mas não apenas deles.
Há apenas um mês, foi realizada a 25ª cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, com a presença de muito mais países do que nunca, e que foi seguida pela reunião de Putin, Xi Jinping e Kim Jong-un.
Esses são exemplos do surgimento de forças centrípetas contra o poder dos EUA que, como efeito não intencional, estão sendo impulsionadas, ou catalisadas, pelas atitudes hostis, intimidadoras, arrogantes e abusivas da Casa Branca, como as que ela está atualmente implementando no Caribe.
Espero que as coisas saiam pela culatra aqui também.
Texto: Gilberto Felisberto Vasconcellos
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Texto: Laura Mercedes Giraldez - desde Cuba
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