Início|Sem categoria|A criminalização do MST

A criminalização do MST

-

Por IELA em 26 de junho de 2008

A criminalização do MST

por Laerte Braga – jornalista

26/06/2008 – A ação de setores do poder público no Rio Grande do Sul tentando impedir o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra) de realizar manifestações, marchas e atos públicos no estado, mais que ferir o direito constitucional de manifestar-se, faz parte de um todo que tem um único objetivo. O controle absoluto do País por forças conservadoras, elites apátridas, nos grandes projetos e negócios do mundo globalizado.

 
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, secretário geral do Itamaraty, escreveu um livro chamado “Quinhentos anos de Periferia”, onde traça todo o cenário da globalização imposta a partir da queda da União Soviética, o modelo desenhado em Washington e na União Européia, que transforma países como o Brasil em periferia e em função das necessidades e interesses das grandes forças econômicas do mundo. Um documento de capital importância por trazer todo o processo histórico desde 1500 até nossos dias, o processo da colonização e da exploração.

O caminho para isso não é tão difícil assim. Primeiro a correlação de forças é desigual. E segundo elites não têm pátria e nem escrúpulos. A elite brasileira inscreve-se entre as mais atrasadas dentre todas.  Até alguns anos atrás uma tênue separação existia entre as chamadas elites rurais (tacanhas, bisonhas e escravagistas) e as elites industriais (freqüentadoras dos salões da realeza). Dois partidos políticos caracterizavam essa realidade. A ex-UDN, o símbolo das elites industriais, da cidade e o ex-PSD, o representante das elites rurais. O que Chico Oliveira mostrou quando descreveu o processo de desenvolvimento incompleto o Brasil ornitorrinco.

A ditadura de 1964 misturou a ambos e ficou claro que não existiam diferenças substanciais entre um e outro. Chegamos a 2008 com as mesmas características só que as elites unidas e isso é fácil de entender. Vivemos o Estado Novo pessedista e o Estado Novo udenista, sem que entre eles existissem diferenças substanciais, mas objetivos iguais.  O extraordinário avanço tecnológico resultou em maior poder dessas forças, pelo simples fato que controlam e detém esse poder tecnológico.

 
O trabalhador, o ser humano comum vive ao redor dessa ordem política, econômica e social e hoje não se pode fazer a distinção entre elites. Há uma só elite que mistura latifundiários e grandes empresários em países como o Brasil e subordinam-se às elites que de fato comandam o processo. A chamada nova ordem política é isso. Um centro formado pelos Estados Unidos e União Européia (as divergências não atingem o principal) e o resto, a periferia.

A Idade Média da Tecnologia.

A guerra do Iraque é um exemplo. A farsa das armas químicas e biológicas que não existiam. A decisão dos EUA de invadir aquele país à revelia do Conselho de Segurança da ONU. A participação de países como a Grã Bretanha, a Espanha (na fase inicial), a Itália, a Suécia, a Austrália e até Portugal e outros e os verdadeiros e reais motivos aparecendo ao longo desses anos.

Petróleo, genocídio sionista (Israel) contra o povo palestino. Ameaças sistemáticas ao Irã, controle do Oriente Médio com a cumplicidade de governos árabes corruptos (Egito, Arábia Saudita, Kwait) e todo um processo de terrorismo mostrado nas prisões iraquianas, no campo de concentração de Guantánamo. O controle político, econômico e territorial da Região.  E Caetano Veloso ainda acha que Bush respeita os direitos humanos.

Essas garras que se revestem de puro terrorismo se estendem ao Afeganistão, às bases militares espalhadas pelo mundo inteiro, inclusive na América do Sul, o controle do governo da Colômbia (aliança com o narcotráfico por interesses hegemônicos e golpistas em relação a governos independentes) e todo o aparato econômico definido, criado e montado nos negócios.

É periferia o Brasil quando o governo Lula aceita entrar no jogo dos biocombustíveis em detrimento da produção de alimentos, favorecendo o latifúndio. É periferia o governo Lula quando permite o agronegócio e o controle da agricultura brasileira por três grandes empresas do setor, transformando-nos em autêntica Roça de Cana, produtores de matéria prima.

É periferia o governo Lula quando aceita jogar o jogo no campo marcado e com juiz deles e acredita que vai ser capaz de vencer barreiras intransponíveis criadas pela chamada nova ordem econômica mundial. Promove desde uma devastação política, econômica e ambiental, que se fará sentir de forma intensa a médio prazo, à medida que não tem um projeto Brasil, ou joga com o tempo, a perspectiva de manter um governo minimamente comprometido com a integração sul americana (incluindo Cuba e Nicarágua), um terceiro bloco capaz de a partir de um projeto próprio resistir a recolonização da Ásia, da África e da América Latina.  E é periferia porque o modelo está falido. Vivemos política e economicamente em função dos espirros de Washington e Wall Street.  E somos tratados como parias com a nova lei para imigrantes na União Européia.

 
Não há uma só conquista dos trabalhadores que tenha sido concessão das elites. Todas foram arrancadas com luta, com sangue e com sacrifícios de gerações inteiras. No caso específico do Brasil o governo FHC adequou o País ao modelo neoliberal. Privatizou, permitiu uma lei de patentes que inibe o desenvolvimento da pesquisa (acabou com a pesquisa, o que existe sobrevive na resistência de bolsões isolados), aceitou o controle do Brasil pelo mundo financeiro internacional e criou um enclave dentro do nosso País, simbolizado na FIESP (Federação das Indústrias de São Paulo), modelo FIESP/DASLU, além de aceitar o projeto de internacionalizar a Amazônia com a privatização da VALE e boa parte do Brasil através da ARACRUZ, MONSANTO, NOVARTIS e outras, essencialmente no Espírito Santo e no Rio Grande do Sul.

Um dos símbolos de uma perspectiva de crescimento efetivo com resultados positivos comuns a todos os brasileiros, a EMBRAPA, está sucateada e entregue ao controle de grupos estrangeiros. O que sobrevive é resistência de técnicos brasileiros.  O MST é o símbolo da luta popular organizada e por isso enfrentado de forma ilegal, covarde e deliberada das elites e seus braços (o mundo dito institucional).  A reforma agrária foi deixada de lado. São constantes as notícias, quase diárias, de trabalho escravo em fazendas do latifúndio.

O Rio Grande do Sul, particularmente, vive uma situação de crise aguda. Um governo deles, das elites, corrupto e venal, pego com as calças (saias) às mãos, reage investindo contra o movimento popular que ao lado de toda a indignação gaúcha reage à sistemática destruição do Estado. A perspectiva de retorno de Olívio Dutra ao governo do Estado em 2010 não interessa ao latifúndio e aos grandes empresários do estado.

E nesse processo é imensa a responsabilidade do ministro da Justiça Tarso Genro que, em 2002, jogou por terra todas as conquistas num projeto pessoal e descabido que acabou demonstrado por inteiro na derrota eleitoral. Aliás, o ministro é um errático. Em 1999, no Congresso Nacional do seu partido fez um acordo com um grupo no negócio de terceira via (na verdade terceira via é conversa de quem não é nem vai ser, mas está sempre colado em quem estiver) e votou com outro.

O agronegócio tem sua base no Rio Grande do Sul. O estado foi tomado de assalto por dois governos onde a corrupção é conseqüência do modelo. É necessário que existam governos que sejam compráveis como foi o de Righoto e como é o de Yeda. E quem compra? Os donos. Como é necessário que o projeto dado o peso do Brasil num momento que a América do Sul se inclina através de eleições para a esquerda, retome o controle das rédeas, mesmo num governo pendular como o de Lula (uma no cravo outra na ferradura), com a eleição de José Serra, em 2010.

O caso ALSTON (empresa sueca que em investigações da Polícia da Suíça pagou propina aos últimos três governadores de São Paulo para obter obras públicas – Covas, Alckmin e Serra) é só a confirmação disso. É importante que as elites tenham políticos venais e corruptos (tucano é a essência da corrupção, dali saem os outros ramos dessa árvore podre) para que possam dar seqüência a esse avanço, a essa ocupação do Brasil.  Daqui pretendem irradiar, com a Quarta Frota norte-americana sendo reconstruída, todo o terror que implantaram no período das ditaduras militares.  Vem com  a marca “democracia” gravada na embalagem.  A mídia vende. É outro braço dessas elites daqui e de fora.  O ser humano não conta e muito menos o Brasil.

 
A ação da Polícia Militar do Rio Grande do Sul e de um coronel, especificamente, torturador e sobrevivente do regime de terror de 1964, aliada ao latifúndio e empresários gaúchos, com a conivência e o apoio de parte ponderável dos serviços públicos comprados e sob a batuta da quadrilha Yeda Crusius, é apenas a capa de algo muito maior, que se estende a todo o País, a toda a América Latina e se volta contra os trabalhadores. Como que bolas de sinuca, estendidos numa mesa, no pano verde, sendo encaçapados na montagem pornográfica do capitalismo neoliberal. A luta do MST é a luta dos trabalhadores brasileiros. É mais que luta de resistência. É de sobrevivência como nação.

 
Mesmo que generais como Augusto Heleno e esse nacionalismo VALE/ARACRUZ ache que os índios são os culpados. As madeiras cortadas ilegalmente e apreendidas na Amazônia não pertenciam aos índios e nem foram as árvores cortadas pelos índios. Tampouco o gado em áreas de proteção ambiental. Pertenciam a grandes empresas e grandes latifundiários, os amigos do general Heleno, o ”nacionalista”.

 
Nessa medida a ação do Exército no Morro da Providência no Rio de Janeiro. Uma espécie de treinamento da boçalidade remanescente da ditadura e para ser posta em prática no terrorismo que os militares brasileiros se acumpliciaram na fraqueza do governo Lula contra o povo do Haiti. Que seja lugar comum. Mas “navegar é preciso, viver não é preciso”. E nem vale falar em gerações futuras. Essas não têm futuro a persistir o atual modelo político, econômico e social. Serão zumbis. É aí que o MST entra. Enfrenta essa realidade brutal e terrorista dos donos do mundo. É aí que entram os donos, fantasiados de defensores da lei e da ordem, mas a deles.

 
É resistir e lutar, pois há quem faça e quem deixe.

Deixar agora é aceitar o estupro do capital internacional.  A barbárie do modelo vendido diariamente nas telinhas das redes brasileiras de tevê, GLOBO à frente, o resto atrás. Dos grandes jornais e revistas na esteira dos rabos presos com os grandes intermediários desse processo. As agências de publicidade. Aquelas que convencem que transgênico não faz mal, só mata.  

Últimas Notícias