A hora e a vez da Venezuela plantada com biomassa
Texto: Gilberto Felisberto Vasconcellos
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Fonte – https/www.museodelprado.es
Em uma de suas aulas magistrais realizada no dia 19 de abril de 2017 o professor Boaventura de Sousa Santos tratou da temática, Os monstros do tempo presente: entre o velho e o novo. A partir da análise do quadro de Goya “O sonho da razão produz monstro ”. Enquanto a razão dorme os monstros desfrutam, o pintor situava a razão adormecida enquanto isso outros diziam-nos como viver, o que fazer, o que escolher, capaz de criar uma visão distorcida e irracional. O pintor que retratou a Espanha na viragem do século XVIII para XIX inaugurou o modernismo com seu realismo, foi da lucidez à loucura e demonstrou os impactos e revoluções vividos na Europa descortinando a dor e as hipocrisias de seu tempo. Boaventura destacou vários fatos históricos europeus no pré-guerra. A Europa viveu uma grande agitação de 1763 a 1913, sua população dobrara, contudo, a fome e o empobrecimento esmagavam a população. A imigração era latente, todos circulavam no mundo na busca por uma vida melhor. Boaventura indagou o que acontecia no mundo para além da Europa, recordemos que em 1909 nascia o intelectual Álvaro Borges Vieira Pinto que, em sua incursão na sociológica, criticava a sacralização da ciência. Entendendo a ciência como a forma mais elevada de captação da realidade pela mente humana, mesmo nas condições mais primitivas existia uma ciência que acompanhou a historicidade, no cotidiano, nos saberes populares, nos encontros, na forma de existir e reproduzir-se.
Neste sentido, estávamos (estamos) ali a fazer ciência, coexistindo com o fornecimento matéria-prima e trabalho braçal aos países desenvolvidos recebendo volumes de investimentos estrangeiros e a maior parte dos países latino-americanos exportavam natureza. Esbravejando, morrendo em lutas sociais contra os colonizadores, contra a escravidão, Florestan Fernandes foi o fundador da sociologia crítica no Brasil, nos deixou esse legado; nosso histórico de luta também incorpora problemas relativos à educação popular e às responsabilidades do cientista social. Toda sua obra está impingida no questionamento da realidade social e vai sempre além do que está dado (In Ianni, 1996).
O desenvolvimento dos países europeus se deu por meio de saques, de guerras e de expropriação dentro de um sistema que não poupa ninguém. Grande parte da população viveu e ainda vive na monstruosidade, no desenvolvimento dentro do subdesenvolvimento. Por outro lado, se vê a exclusão por toda parte, mesmo dentro das sociedades desenvolvidas. Basta observarmos o tratamento dados aos refugiados, a precarização do trabalho, a falta de perspectiva de futuro que é universalizada. Em mundo onde todos lutam contra todos, os países com alto padrão de desenvolvimento possuem as taxas mais altas de suicídio. O que está a passar fora dos nossos interesses e visões diárias? Indagou o professor em sua aula magistral. Nosso pensamento se baseia no que é mais imediato e o fato é que ninguém está na neutralidade, todos estamos implicados e comprometidos, somos seres sociais e incapazes de nos humanizar sozinhos. As ideologias não estão suspensas no ar, tampouco se equivalem de pontos de vistas, de uma verdade individual todas se revestem de uma verdade histórica que em sua amplitude revela a natureza dos conflitos.
Nesse sentido a teoria, enquanto ciência revolucionária e transformadora, é também responsável pela opressão quando não realiza nada para modificar a atual situação. É a teoria que revela nossos infortúnios, confrontada com a sociologia acadêmica da dominação, que legitima e confirma a opressão.
Os “sociologetas” como afirma Álvaro Vieira Pinto, criam falsos problemas e soluções sem utilidade, reduzem estudos de grupo à sociedade, opacando os grupos, por meio de estatísticas, questionários, amostragem e um arsenal que a esvazia a crítica e incorporam os microgrupos na democracia do capitalismo – quando o fazem, por vezes são apenas publicações desbotadas – (FAVERI & NOSELLA, 2007: 174). Ocultar o vale de lágrimas por meio da ideia que o avanço histórico retiraria os países subdesenvolvidos de sua condição subalterna é conceito chave para a classe dominante e criador da falsa esperança que a desigualdade deixará de ser injusta (apud FAVERI & NOSELLA, 2007: 176). Os países pobres não pensam por si ou não possuem seu pensamento reconhecido.
O monstro citado pelo Professor Boaventura em sua aula magistral é um monstro materialista dialético, o único capaz dar conta da correlação entre os diversos processos, locais, regionais, nacionais engendrados na complexa e desigual lógica. Lógica que é global, porém não globalizada no que possuímos de melhor e sim no auge do processo de internacionalização do mundo capitalista, que ao se desenvolver o faz sob a égide da barbárie, distribui tudo de forma desigual e no seu carater mais perverso, como afirmou o nosso geógrafo. Transitar para outro tipo de vida e de sociedade se enceta pela negação do que está posto e a critica é a única arma dos intelectuais.
Referências
Fáveri, José de E. & Nosella, Paolo (2007) A Sociologia dos Países Subdesenvolvidos” como configuração do vale de lágrimas: do manuscrito de Álvaro Vieira Pinto. Série-Estudos – Periódico do Mestrado em Educação da UCDB. Campo Grande-MS, n. 24, p. 169-186, jul./dez.
Ianni, Octávio. (1996) A sociologia de Florestan Fernandes. Revista Estudos Avançados (10) 26. Palestra feita pelo autor no Ato Presença de Florestan Fernandes, organizado pelo Instituto de Estudos Avançados na Sala do Conselho Universitário da USP em 5 de outubro de 1995. Consultado a 19.04.2017 em http://www.scielo.br/pdf/ea/v10n26/v10n26a06.pdf>
Santos, Boaventura de S. (2017) Os monstros do tempo presente: entre o velho e o novo. (Aulas Magistrais) Assistida a 19.04.2017 disponível em http://alice.ces.uc.pt/en/index.php/alice-info/master-class-april-19-the…
Santos, Milton (2000) – Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2000
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