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A “oposição democrática” na Venezuela: pior do que o fascismo

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Por IELA em 07 de maio de 2017

A “oposição democrática” na Venezuela: pior do que o fascismo

​A sequência de eventos que ocorre na República Bolivariana da Venezuela mostra que a estratégia da chamada “oposição democrática” é uma conspiração sediciosa para destruir a ordem democrática, devastar as liberdades civis e fisicamente aniquilar as principais figuras do chavismo, começando com o próprio presidente Nicolás Maduro, sua família e entorno afetivo próximo. Oponentes estão metodicamente atravessando os passos indicados pelo manual desestabilizador “Sem violência estratégica” (sic!) do consultor da CIA, Eugene Sharp.
Não pode haver a menor ambiguidade na interpretação das intenções criminosas dessa oposição que, se chegar a ter êxito, seria capaz de colocá-las em ação. Se os seus chefes conseguirem envolver militarmente os Estados Unidos na crise venezuelana, propiciando a intervenção do Comando Sul – com a tradicional colaboração militar dos infames peões de Washington na região, sempre dispostos a respaldar as aventuras de seus amos do Norte – jogariam uma faísca que iria inflamar a pradaria América Latina. As consequências seriam catastróficas, não somente para os nossos povos, senão também para os Estados Unidos, que certamente iriam colher, como na invasão da Baía dos Porcos (Cuba, 1961), mais uma derrota em nossas terras.
Essa é a aposta desta oposição venezuelana, absurdamente exaltada pela imprensa hegemônica mundial. Esta imprensa, como fez antes com os “combatentes da liberdade” na Nicarágua e, em seguida, na Líbia e no Iraque, mente descaradamente ao apresentar o que está acontecendo na Venezuela. A tentação da direita venezuelana de internacionalizar o conflito e envolver o músculo militar do império ganhou força ao conhecer-se as recentes declarações do chefe do Comando Sul, o almirante Kurt Tidd, perante a Comissão das Forças Armadas do Senado dos Estados Unidos e, especialmente, quando tornou-se pública a nomeação de Liliana Ayalde como Vice-Chefa Civil do Comando Sul.
Liliana Ayalde serviu como embaixadora dos EUA no Paraguai, às vésperas do “golpe parlamentar” contra o governo de Fernando Lugo, ocasião em que se movia nos bastidores para garantir o sucesso do golpe. Depois de umas breves férias, ela retornou à região para ocupar o mesmo cargp, mas desta vez em Brasília, onde encorajou e apoiou a “derrubada institucional” de Dilma Rousseff. Consumada a sua obra, voltou para os Estados Unidos em busca de novas missões desestabilizadoras e as encontrou no Comando Sul.
Em outras palavras, o número dois dessa organização é muito mais perigoso do que o seu chefe. Ayalde é filha de um médico colombiano radicado nos Estados Unidos, ela é uma temível especialista em demolições políticas e foi designada (certamente por acaso!) para o cargo que hoje ocupa desde fevereiro deste ano, coincidindo com a intensificação dos protestos violentos contra o governo bolivariano. Como pode ser lido no website do Comando Sul, a missão de Liliana é “monitorar o desenvolvimento e aperfeiçoamento da estratégia regional Comando Sul e seus planos de cooperacião em matéria de segurança”.
O que a oposição “democrática” venezuelana deseja é precipitar uma violenta “transição” ao pós-chavismo, reeditando na pátria de Bolívar e Chávez a tragédia ocorrida na Líbia e no Iraque. Esse é o seu plano, o modelo que se depreende dos discursos violentos, desaforados e irresponsáveis ​​de seus líderes e o que o Comando Sul e a sua tenebrosa Vice-chefa tem nas mangas. Poucas designações poderiam ter sido mais apropriadas do que esta de incentivar os setores da Venezuela que defendem a violência. E raras as atitudes seriam mais suicidas do que o governo venezuelano pretender apaziguar os ânimos dos violentos com concessões de vários tipos. Infelizmente, só se poderá ver a luz, como dizia José Martí, se o estado aplicar todo o rigor da lei e apelar à eficácia de sua força para submeter o vandalismo de direita e esmagar o ovo da serpente antes que seja tarde demais.
Fascistas? Sim, por seus métodos, semelhantes aos utilizados por grupos armados de Mussolini e Hitler, para aterrorizar italianos e alemães, semeando a destruição e a morte a partir de uma onda terrorista; fascistas por seu conteúdo político, porque a sua proposta é inerentemente reacionária, ao pretender apagar em um canetaço, como tentou sem sucesso no golpe de 11 de Abril de 2002, todas as conquistas populares alcançadas a partir de 1999.
Fascistas também em função da absoluta imoralidade e falta de escrúpulos de seus líderes, alimentando o fogo da violência, encorajando os seus bandos de lumpens e paramilitares a atentar contra a vida e a propriedade dos venezuelanos e as agências e instituições do Estado – hospitais, escolas, edifícios públicos etc –, e que não recuam diante da possibilidade de mergulhar a Venezuela em uma sangrenta guerra civil ou, no caso improvável de prevalecer, transformando o país em um abominável protetorado estadunindese.
Todos os adversários venezuelanos são piores do que os fascistas na medida em que estes mantinham, pelo menos, um certo sentido nacional. Os seus congêneres italianos e alemães nem remotamente arrastaram-se na lama da política internacional para oferecer os seus países a uma potência estrangeira, como faz a direita venezuelana, enterrada para sempre na na eterna ignomínia. A direita venezuelana, alternadamente choraminga ou uiva para que a sua terra natal, a pátria de Simón Rodríguez e Francisco de Miranda, Simón Bolívar e Hugo Chávez, se torne uma abjeta colônia norte-americana. Tratá-los como fascistas seria fazer-lhes um favor. Eles são muito piores e mais desprezíveis do que aqueles.
Atilio Borón – sociólogo e cientista político, escritor e professor da Universidade de Buenos Aires, integrante do Partido Comunista da Argentina. Foi Secretário Executivo do Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO) entre 1997 e 2006.
Tradução de Roberto Bitencourt da Silva.
Originalmente publicado em Cubadebate
 

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