A hora e a vez da Venezuela plantada com biomassa
Texto: Gilberto Felisberto Vasconcellos
Aguarde, carregando...
(AP Photo/Hatem Ali, arquivo)
Muito provavelmente uma das coisas mais terríveis que um ser humano pode passar é fome. Fome mesmo, dessa que te corrói os ossos. Não esse vazio que existe entre uma refeição e outra. Não. Falo de fome, fome mesmo. O terror de não ter absolutamente nada para comer ou alimentar seus filhos por dias e dia a fio. Pois essa tem sido uma poderosa arma de guerra contra os povos e atualmente se pode ver seu uso em curso contra a Venezuela, Cuba, Palestina.
A técnica é simples. Consiste em simplesmente interromper o fluxo de produtos alimentícios, jogando a população contra os governos. No caso da Venezuela a chamada “guerra econômica” que teve início em 2015, foi justamente bloquear a importação de alimentos e outros produtos do dia a dia. O governo, acusado de ser ilegítimo, simplesmente não podia comprar porque ninguém queria vender. Ordem dos Estados Unidos. Assim foram se formando as famosas filas, quilométricas, com as pessoas praticamente lutando entre si por um pedaço de pão. A Venezuela entrou em convulsão. Ao mesmo tempo em que os Estados Unidos impedia a entrada de comida, a oposição – financiada pelos EUA – provocava rebeliões, visando responsabilizar o governo pela fome. Ouve batalhas pela comida, como quando os opositores queimavam caminhões de ajuda que chegavam ao país.
O governo de Nicolás Maduro sobreviveu por conta de uma extraordinária organização popular – herança de Chávez – e a providencial ajuda da Rússia. Hoje, ainda vivendo o drama das sanções, a Venezuela segue capengando, pois além de impedirem que entre a comida, os Estados Unidos e seus parceiros europeus sequestram as riquezas que o país tem no exterior. Já são bilhões roubados além do sequestro de bens como aviões. Estrangulam a vida da população simplesmente porque não querem Maduro presidente. Agora, ajudados pelo Brasil, também tiram do país a possibilidade de entrar no BRICs, o que poderia dar algum respiro na economia. Assim, impondo a fome, procurar derrubar o governo.
Em Cuba é igual. A ilha caribenha paga há quase 70 anos o preço de ter se libertado de uma ditadura assassina que transformava Cuba em um puteiro/cassino para a alegria dos ricos estadunidenses. Com a revolução de 1959 Cuba decidiu outro caminho: o da vida boa para todo seu povo. Mas, não tem conseguido. Não por incompetência do governo ou porque o socialismo é coisa que não dá certo. Não. É porque a ilha está bloqueada economicamente, sem conseguir realizar comércio com os países. Bloqueio imposto pelos Estados Unidos que não aceita o governo cubano ser um governo popular e nacional. A fome foi arma segura no final dos anos 1980, depois da queda da União Soviética, que era quem garantia produtos a Cuba. Os cubanos, sem o apoio da URSS e sem poder comerciar com os demais países viveram anos de completo desespero, quando tiveram de comer até os animais domésticos. Tudo isso produzido pelos EUA para que houvesse revolta e o governo caísse. Pouco se lhes dá provocar a morte ou o desespero. Vale tudo para derrotar qualquer proposta que seja contra seus interesses. Agora, com a crise e o bloqueio a Venezuela, Cuba volta a viver anos difíceis. O país vizinho era um dos poucos a comerciar com a ilha. Assim, atacando a Venezuela os Estados Unidos atingem também Cuba, numa espécie de combo macabro.
Na Palestina a estratégia de vencer pela fome também está em curso, aliada a bombardeios sistemáticos de armas tradicionais e biológicas. O objetivo final é assassinar até o último palestino. Os que não morrerem pelas bombas, morrerão pela fome. E assim, assistimos ao festival de imagens do horror, com crianças vagando com seus irmãos mortos, mães lutando por um naco de comida e todo um povo em fuga desesperada para novos suplícios, visto que não há um lugar seguro em parte alguma. Em Gaza , uma criança morre de fome a cada duas horas.
Para os governantes do mundo está tudo bem. A guerra é assim mesmo. Vale tudo. E como são os que mandam no mundo também conseguem incorporar nas suas folhas de pagamento os meios de comunicação que divulgam, à exaustão, suas mentiras. A ideologia circula velozmente, toma a cabeça e o coração das gentes que acabam acreditando ser algo muito bom ver matar todo um povo de fome para que “retorne a democracia”.
Nesse universo eivado de mentiras acaba sendo cada vez bem mais difícil revelar a verdade. Por que morre o povo na Venezuela, por que migra? Porque o país está bloqueado e não consegue se organizar, visto que todo dia tem de matar um leão. E Cuba? É o socialismo que está matando Cuba? Não. É o bloqueio criminoso que impede o país de negociar, de realizar trocas, de seguir seu destino soberano. E a Palestina? São terroristas? Não! São pessoas que lutam para recuperar seu país, suas casas, suas terras, que vem sendo roubadas pelos sionistas desde 1948, aos olhos de todos e com o beneplácito dos governos mundiais. Lutam para impedir que seus filhos, ainda crianças, sejam presos e torturados pelo simples fato de serem palestinos. Lutam pelo direito de viver.
Falo destes três países, mas poderia acrescentar uma lista imensa: Haiti, Sudão, Iêmen, Ucrânia, a Somália e outros tantos países da África, obscurecidos por atrocidades maiores, mas que também vivem a realidade da fome como arma dos poderosos para garantir seus interesses.
Ah, mas isso é papo de comunista, dizem os cidadãos de bem nas redes sociais, como se “papo de comunista” fosse algo muito ruim. Sim. É papo de comunista, de gente que quer um mundo bom para todos, com as riquezas repartidas, com as vidas compartilhadas, com os países vivendo suas vidas em soberania. O capitalismo – pintado como o melhor dos mundos – é o que produz toda a desgraça, porque, nele, só uns poucos têm o direito à riqueza, à felicidade a à paz. E para que sejam ricos, milhares precisam morrer. É o capitalismo que estende essa cortina de fumaça nos olhos das gentes, fazendo-as odiar quem luta contra o horror. Assim, vão caminhando os “zumbis” dos tempos modernos, guiados por um monstro e dispostos a destruir aqueles a quem deveriam se aliar.
São dias tristes, mas seguimos de olhos abertos e prontos para o combate.
Texto: Gilberto Felisberto Vasconcellos
Texto: Itamá do Nascimento
Texto: IELA
Texto: IELA
Texto: Elaine Tavares