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Aperitivo indigesto: argentinos podem optar por valor de transportes sem ajuda do Estado

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Por Felipe Bianchi em 19 de outubro de 2023

Aperitivo indigesto: argentinos podem optar por valor de transportes sem ajuda do Estado

Contra agenda privatista de Javier Milei e Patricia Bullrich, governo lança mecanismo para argentinos optarem por pagar ‘preço cheio’ no transporte coletivo como amostra do que é, na prática, a redução do Estado

Por Felipe Bianchi, de Buenos Aires (Argentina), para a ComunicaSul*

A polêmica recente em torno do Sistema Único de Bilhete Eletrônico (Sube), serviço de pagamento unificado dos serviços de ônibus, trem e metrô na Argentina, escancara uma das batalhas centrais nas eleições que se iniciam no domingo (22): o papel do Estado na economia do país.

A corrida presidencial opõe três candidatos favoritos na disputa por um lugar no segundo turno – é preciso 45% dos votos ou 40% e uma diferença de 10 pontos percentuais em relação aos demais candidatos para liquidar o pleito já no domingo, cenário improvável segundo todas as pesquisas divulgadas até a publicação desta reportagem. A candidatura de Sérgio Massa, ministro da Economia e candidato do campo progressista pela chapa Unión por la Pátria, é a única que tem a centralidade do Estado como bandeira.

Para demonstrar na prática o que significa a agenda privatista de Patricia Bullrich (Juntos por el Cambio) e, em especial, o “plano motosserra” de Javier Milei (Alianza Liberal), o governo argentino anunciou uma medida pedagógica e inusitada: a partir do dia 20 de outubro, a população terá a opção de abrir mão do subsídio estatal nas passagens de transporte.

Em números, isso significa que tíquetes de ônibus que custam 60 pesos saltariam para cerca de 700 pesos (algo como sair de R$ 0,90 para R$ 10). Já bilhetes de trem que hoje valem 90 pesos passariam a custar ao redor de 1.100 pesos (de R$ 1,30 a quase R$ 16).

“Se você é contra os subsídios estatais, como Milei e Bullrich, basta renunciar ao preço garantido pelo Estado”, argumenta Diego Giuliano, ministro dos Transportes. “Isso não é mera questão de campanha, mas de esclarecimento sobre a crença de que tudo deve ser decidido exclusivamente pelo mercado”.

Segundo o presidenciável Sérgio Massa, o que fez o ministério dos Transportes é didático. “Não entendo por que se ofenderam tanto. Simplesmente contamos à população o custo das propostas de Bullrich e Milei. Apenas a verdade”, afirma.

A reação imediata de Milei foi dobrar a aposta: privatização total. “O melhor momento do nosso sistema ferroviário ocorreu quando era inglês”, defendeu o candidato da ultradireita. “O Estado deve se retirar do meio, porque a realidade é que quando o setor privado toma conta, faz muito melhor”, disse, repetindo mantras privatistas sem aprofundar ou fundamentar sua proposta.

De acordo com Massa, as reações enervadas de Milei e de Bullrich, que respondeu à novidade chamando o atual ministro da Economia de “burro”, se dão por conta de que a novidade desnuda, para a classe trabalhadora e para os aposentados, qual será o custo do transporte se vence, nas urnas, as propostas de Milei e Bullrich.

* Com informações de Página12

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