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“Bancos e monopólios continuam mandando”

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Por IELA em 06 de outubro de 2008

“Bancos e monopólios continuam mandando”

Entrevista de Nildo Ouriques ao Jornal Brasil de Fato – prof. de economia da UFSC

Tatiana Merlino –  da redação , BRASIL DE FATO

 Há os que pensam que a crise econômica vivida hoje pelos EUA e a subseqüente intervenção do governo de George W. Bush na economia podem significar o fim do neoliberalismo e o início de uma fase mais suave do capitalismo. Poderia ser, por exemplo, uma espécie de volta do Estado de Bem Estar Social. Mas não é nisso que acredita o economista Nildo Ouriques, professor do departamento de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Para ele, o Estado continua tomando as medidas que os capitalistas esperam, ou seja, gdar dinheiro para os ricosh. No dia 29 de setembro, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos rejeitou por 228 votos a 205 um conjunto de medidas econômicas, para controlar a crise econômica do país, estimado em 700 bilhões de dólares.

Em entrevista, Ouriques afirma que “os bancos continuam mandando, os monopólios continuam mandando e não estão dispostos a efetivamente controlar o sistema bancário e diminuir os interesses dominantes nos EUA. Não estou vendo quebra de paradigma”.

Brasil de Fato – Muito se tem discutido sobre qual será a verdadeira extensão da crise econômica financeira que afeta os EUA. Qual a sua opinião?
Nildo Ouriques – Impossível saber, porque isso é um segredo de Estado. Mas temos evidências: primeiro, não se trata de uma crise restrita ao mercado de hipotecas, como as autoridades estadunidenses tentam dizer e o ministro [da Fazenda] Guido Mantega também. A crise afetou todos os bancos e chegou à AG [corretora de Bolsa de Valores A.G. Edwards]. Ou seja, atingiu todo o sistema. Porém, no último trimestre, em agosto, a taxa de lucros das empresas transnacionais estadunidenses continuaram com o mesmo ritmo. Assim, se afetou todo sistema, mas a taxa de lucro das empresas de capital produtivo não baixaram. Esse é um indicador de que a crise não atingiu o lucro das transnacionais.

 É possível saber quanto tempo ela irá durar?
Não sabemos a extensão dessa crise, mas tudo indica que ela é cíclica, muito profunda e não dá para prever quanto ela vai durar. Mas, sendo cíclica, destrói muita riqueza. Uma das primeiras coisas a acontecer é o aumento do desemprego e a diminuição dos salários. Vai aumentar o grau de exploração dentro dos EUA, que já tem milhões de trabalhadores em situações precárias. O fato do Bush estar pedindo 700 bilhões de dólares evidencia que o buraco pode ser muito mais profundo, mas nós nunca vamos saber disso. A crise é violentíssima e vai afetar os países da periferia do capitalismo.

 É possível prever quanto a crise financeira irá afetar a economia real?
Não. A crise, que já tinha dado sinais em agosto de 2007, não afetou o lucro do setor produtivo. A taxa de lucro das multinacionais continuou sendo muito alta, entre outras razões, porque elas repatriaram lucro da periferia capitalista. Eles remetem lucros e dividendos e estão produzindo um rombo nas transações correntes do nosso país. Por enquanto, com dados de agosto de 2008, sobre os dois primeiros trimestres dos EUA, as taxas de lucro das multinacionais não baixaram.

 De acordo com o economista Paulo Passarinho, tudo indica que o longo ciclo de descolamento da esfera financeira em relação à economia produtiva real está em xeque. Como o senhor avalia isso?
Está em xeque mesmo. O que vai acontecer é que como a crise chegou violentamente no andar de cima, no mundo das finanças, por meio da manifestação de desvalorização dos ativos das empresas – como advertiam [Karl] Marx e [John Maynard] Keynes – vamos descobrir que tudo que esse pessoal tem são papéis, que não são bens tangíveis. Mas com isso, que eu não chamaria de reconciliação entre o setor financeiro e o produtivo, o que fica mais claro agora é que a economia tem que se mover através de bens tangíveis. Quem tinha papel não tinha nada, quem tem terra, tem alguma coisa. Simples assim.

 Como o senhor avalia a rejeição no Congresso dos Estados Unidos ao pacote de 700 bilhões de dólares elaborado pelo presidente George W. Bush?
Nos EUA, tanto os republicanos quanto os democratas estão completamente descolados do ânimo da população, que não se vê representada em nenhum dos dois partidos, que representam os monopólios e os banqueiros. Que não me venham com esse papo de que [Barack] Obama vai ser melhor para a América Latina. Só pode dizer isso quem estiver sendo pago pela embaixada dos Estados Unidos. Ambos [os partidos] estão ultra comprometidos com os monopólios, não estão interessados em defender a população. Os dois partidos estão vivendo um processo eleitoral e fica a disputa para ver quem será o responsável por dar o dinheiro para os ricos. As decisões do Congresso, que é de maioria democrata, é para dividir minimamente os custos, dar uma explicação para a plebe. Nenhum dos dois partidos está contra dar os 700 bilhões, eles estão apenas discutindo como. Ninguém discutiu nenhuma medida no sentido de efetivamente controlar os bancos. (Leia mais na edição 292 do Brasil de Fato)

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