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Chile vai retomar atividades de forma gradual

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Por IELA em 22 de abril de 2020

Chile vai retomar atividades de forma gradual

Barreiras sanitárias são realizadas em muitas cidades do Chile – Foto Rapahel Sierra/ Diario Concepción

Concepción está vazia, mas presidente Sebastian Piñera  já convocou funcionários públicos para voltarem, gradualmente, ao trabalho. Piñera vai à TV e adverte os chilenos de que devem se preparar para viver uma histórica recessão econômica
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, foi à TV no domingo (19) à noite, em rede nacional, para falar sobre a pandemia e os problemas econômicos do país. Ele determinou que os funcionários públicos voltem ao trabalho gradualmente, com exceção de pessoas que estão no grupo de risco ou cujo trabalho possa ser feito remotamente de casa. Ao mesmo tempo, o presidente descartou a volta das aulas antes de maio, alertou para que todos se preparem para viver e trabalhar com uma outra realidade e advertiu que os chilenos devem se preparar para viver uma histórica recessão econômica que se abaterá sobre o país e o mundo.
“Estamos com os números da Covid-19 controlados”, afirmou Piñera na TV.  Até  quarta-feira, , dia 22 de abril, 147 pessoas morreram no país, mais de 10 mil foram infectadas 4.969 recuperadas. O Chile possui hoje uma população de 18,7 milhões de habitantes. Nos últimos 30 dias, foram realizados 80 mil testes, segundo o governo de Piñera, uma média de quase 3 mil por dia. O estado financia a aplicação, mas só é realizado se a pessoa apresenta os sintomas e/ou se teve contato com alguém contagiado.
“Algumas cidades estão em quarentena”, diz por whatsApp a brasileira Tatiana Moritz, que vive com o marido chileno e os dois filhos (12 e três anos) em um condomínio de casas em Concepción, segunda maior cidade do Chile. Lá passou a ser obrigatório desde 17 de abril o uso de máscaras em lugares públicos. Ficar sem máscara, só em casa.  Em depoimento à Dfato (veja  abaixo) , Tati, como é mais conhecida, relata  que o seu trabalho continua o mesmo, pois atende uma empresa de Puerto Montt a distância, com cardápios, informativos microbiológicos e relatórios. Em casa, ela é quem sai para as compras e duas vezes por semana passeia de carro com as crianças pelo bairro. “Pelo menos por aqui todos respeitam as determinações e ficam em casa”, conta.
 O jornalista Silvanio Mariani, editor-chefe do Diario Concepción, especializado em economia, conta à Dfato que, ao contrário do Brasil, o Chile é um país muito centralizado, e sem a autonomia dos governadores, que são designados pelo presidente. ” Não temos eleição para governadores, só para prefeitos”, explica o jornalista brasileiro radicado há quase 20 anos no Chile.
Silvanio Mariani é editor-chefe do Diario Concepción, especializado em EconomiaNo caso da pandemia, conta o jornalista, tudo está concentrado numa comissão de especialistas liderada por Piñera, com o apoio do Ministério da Saúde. “Existe um grande debate por causa dessa comissão”, relata. “O Governo é criticado porque não escuta cientistas e especialistas, e também não age com transparência mostrando quem são os membros da sua comissão”.
Atualmente, o Chile vive duas grandes proibições: o toque de recolher diário, vigente há três semanas, das 22h às 5h; e o impedimento de aglomerações, ou seja, grupos com mais de dez pessoas. “Essas medidas são para evitar que o vírus se propague, mas também acabaram com as manifestações que ocorriam desde outubro e cobravam mudanças das políticas governamentais”, explica o jornalista.  “Os pontos centrais dessas manifestações são os sistemas de saúde, de educação e dos fundos de pensão”. 
Nesta pandemia, observa, o governo faz o que vem fazendo desde outubro de 2019 quando iniciaram as manifestações: “Abrindo a carteira e tirando dólares e pesos para acalmar os ânimos, lançando políticas que emprestam dinheiro para injetar liquidez no mercado”.  Para Mariani, é muito difícil prever o impacto da pandemia na economia. “Em 2008 e 2009 diziam que o Chile ia sucumbir, mas aqui estamos, por isso não me arrisco a fazer projeções”. Segundo o FMI, o Chile pode crescer apenas 1% neste ano, mas é o país mais bem posicionado economicamente da América do Sul.
Na crise de 2008/2009, o Chile, assim como o Brasil, absorveu bem os impactos, já que tinha política fiscal e monetária. “Os cofres públicos estavam com muitos dólares”, diz o jornalista lembrando que 50% do PIB do Chile vem de um só produto: o cobre. “Temos um ingresso bastante potente, que depende da variação do preço do cobre”.
No último dia 6 de abril, o Governo de Piñera lançou uma política que permite às empresas  suspender contratos de trabalho com seus empregados. Para que não fiquem sem salários, esses trabalhadores vão receber o seguro desemprego, que recolhiam do seu salário. “É como se fosse uma poupança para quando ficar desempregado”, observa o jornalista. A empresa diz que quer romper o contrato de trabalho e não paga o salário,  só as contribuições sociais. Esse trabalhador vai ganhar o seguro, mas não em sua totalidade – 70% no primeiro mês; 55% no segundo; 45%, no terceiro; 40% no quarto mês e depois os dois últimos 30%. “É muito questionável e já existe um grande debate no país”, conta. Ele diz que essa forma encontrada pelo governo para amenizar esse impacto econômico é muito questionável: “Para as empresas é positivo, porque elas ficam sem o custo de demitir o empregado, mas quem tem custo é o trabalhador, que está dilapidando seu patrimônio”. 
Outro grande debate político dos últimos meses é a Saúde. Os planos são tanto público como privados, mas só fica no plano público quem não pode pagar um privado, cujo custo é bem alto. No público leva-se meses e até anos para fazer consultas, exames e cirurgias. A educação privada tem oferta maior que a pública. O Ministério da Educação suspendeu todas as atividades presenciais logo no início dos primeiros casos, mas as aulas online não obtiveram sucesso e, por isso, as férias de inverno foram antecipadas. Só as universidades estão com aulas online.
Depoimento – Tatiana Mortiz
“Aqui no Chile algumas cidades cumprem quarentenas obrigatórias e outras não. Elas se renovam de sete em sete dias, dependendo do número de contágios. Existem também cordões sanitários de isolamento, não entra e não sai ninguém, só passam caminhões de abastecimento e pessoas para o hospital. 
Em Concepción, onde vivemos num bairro residencial, não estamos em quarentena obrigatória, mas notamos que as pessoas estão em casa e conscientes de que é melhor assim. Saio com as crianças de carro para dar um volta pelo bairro umas duas vezes por semana. As aulas estão suspensas desde 14 de março e ainda não definiram quando voltam. Shoppings e comércios estão fechados. Os bancos e supermercados têm horário reduzido de atendimento –  das 9h às 18h e com dez  a 20 pessoas por vez no interior do estabelecimento. 
Casas de construção funcionam, mas o movimento é bem reduzido. No centro as lojas estão fechadas, só farmácias e óticas abertas. As pessoas evitam sair. Aqui em casa só eu saio para supermercado e farmácias. Mas ainda vejo famílias inteiras na rua sem máscara”.
 
****Esse texto faz parte de uma série de matérias sobre como alguns dos países da América do Sul estão enfrentando a pandemia do COVID-19. Quais as medidas sociais e econômicas já tomadas, como evolui o vírus nos países – número de casos confirmados e mortes -, a situação no setor de saúde e os problemas a serem enfrentados nos próximos dias. As fontes são jornalistas de cada país, autoridades e dados oficiais dos governos.
 

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