USAID e a falácia da generosidade
Texto: Camila Feix Vidal - IELA
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Desde alguns anos a sociedade brasileira vem sendo submetida a uma insistente campanha publicitária, com os melhores recursos tech, que tentar fazer pop a ideia de que o agro é tudo.
Os recentes dados revelados sobre o crescimento da indústria de alimentos no ano 2020, em plena pandemia e em plena crise econômica agravada por ela, assim como os dados sobre o aumento da inflação que voltaria a nos ameaçar, é um duro golpe nesse complexo de poder técnico-industrial-financeiro-midiático que se autodesigna agrobusiness e em toda política econômica liberalizante que a bancada dos 4-B dá sustentação.
Chama a atenção que, num ano de crescimento negativo para a economia como um todo, a indústria de alimentos cresça num tapa-na-cara em todos aqueles que sustentam redução de gastos sociais para manter a economia equilibrada e preparada para o crescimento econômico. Afinal, foi a ajuda emergencial aos que recebiam a criticada Bolsa Família e aos mais de 40 milhões de invisíveis (sic) que proporcionaram que o povo pudesse comer e, assim, a indústria de alimentos cresceu apesar da economia em crise e apesar da pandemia.
E, mais surpreendente ainda, para os desavisados e que acreditam que o agro é tudo, é que nesse mesmo ano aumentou a importação de alimentos, tarefa que os think tanks do agribusiness dizem ser a mais legítima das missões do setor, qual seja, alimentar o mundo e superar a fome! E, a contradição se mostra ainda maior, quando se vê aumentar a inflação que teria como uma das causas principais justamente essa importação de alimentos que, assim, dolarizados veem seus preços pressionados para cima, pressão que se reforça pela escassa produção nacional de alimentos que poderia conter aumento.
E, mais grave ainda é quando observamos que os pobrebolsistas e invisíveis (sic) ganham em Reais e passam a comprar produtos dolarizados porque o agro-é-tech-pop-tudo nunca visou a soberania e a segurança alimentar nacional ou do povo brasileiro, aliás, conceitos que consideram atrasados, superados. Mas não estamos colhendo o que plantamos? Vejamos.
Entre 1988 e 2018, o total das áreas plantadas com lavouras temporárias e permanentes aumentou no Brasil em 38,3%, segundo a FIBGE. No entanto, o cultivo com as três principais commoditties – a cana, a soja e o milho – aumentou sua área em 118% nesse mesmo período! E, a área plantada com Arroz, Feijão e Mandioca diminuiu em 68,8%, nesse mesmo período, segundo a mesma FIBGE! Em outros termos, o cultivo com as três principais commoditties passou de 49,8%, em 1988, para 78,3%, em 2018 da área total cultivada no país. Um aumento espetacular das monoculturas de commoditties: enfim, em 2018, mais de ¾ do total da área das lavouras temporárias e permanentes foram cultivadas por apenas três produtos.
Por outro lado, o Brasil que, em 1988, ainda dedicava ¼ (24,7%) do total de sua área ao cultivo dos principais produtos da cesta básica, a saber, arroz, feijão e mandioca, em 2018 dedicava somente 7,7% de suas áreas cultivadas a esses alimentos! Considere-se, ainda, que entre 1988 a 2018, o rebanho bovino brasileiro aumentara em 53%, um aumento de cerca de 74 milhões de cabeças! Dessas 74 milhões de cabeças de gado, 55,4% cresceram na região Norte e 38,2% na região Centro-Oeste, ou seja, 93,6% desse aumento se deu nessas duas regiões!
Poupo o leitor nesse momento, para não tirar o foco, de analisar a geografia da evolução da área cultivada por região no território brasileiro, embora adiante que, tal como assinala a geografia da evolução do rebanho bovino, foram nas mesmas regiões, a saber, nos cerrados, nosso berço das águas, e na Amazônia, as áreas que sofreram a maior expansão do agribusiness com os efeitos nefastos ambientais e sociais já sabidos, com destaque para a violência dos conflitos por terra inaceitáveis num país com a extensão territorial do Brasil.
Enfim, o agro é tudo isso e não só aquilo que quer mostrar e está mais do que na hora de enfrentarmos o desafio de reverter os rumos do país! E já que Deus tem sido tão invocado, avisemos, como já o fizera o grande Guimarães Rosa: “Deus, mesmo, se vier, que venha armado”.
Texto: Camila Feix Vidal - IELA
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