Início|Sem categoria|Rede Globo e Daniel Dantas: um caso de polícia

Rede Globo e Daniel Dantas: um caso de polícia

-

Por IELA em 22 de abril de 2009

Rede Globo e Daniel Dantas: um caso de polícia
Por Osvaldo da Costa  
22/04/2009 – Não se trata de cobertura dos fatos, se trata de um ataque à
consciência dos telespectadores 
Na noite de 19 de abril o programa de variedades Fantástico, da Rede Globo, apresentou uma suposta reportagem sobre um conflito ocorrido numa fazenda do Pará, envolvendo “seguranças” (o termo procura revestir de legalidade a  ação de jagunços)  da fazenda do banqueiro Daniel Dantas e militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Só pude descobrir que se tratava de propriedade do banqueiro
processado por inúmeros crimes e protegido por Gilmar Mendes, do
Supremo Tribunal Federal, após ter vasculhado algumas páginas na
internet em busca de meu direito de escutar o outro lado da notícia, a
versão dos fatos dos sem terra, pois na reportagem eles aparecem como
invasores, baderneiros, seqüestradores da equipe de reportagem da Rede
Globo, assassinos em potencial, e ao final, corpos de militantes
aparecem baleados no chão, agonizantes, sangrando, sem nenhum socorro,
e a reportagem não fornece nenhuma informação sobre o estado de saúde
das vítimas.
Sem ter acesso às causas do conflito, e a nenhum dos dois lados
envolvidos, o telespectador se vê impelido a acompanhar o julgamento
que o narrador da reportagem e a câmera nos sugere. No caso, tendemos
a concordar com a punição dada aos desordeiros: “que sangrem até morrer!”, ou “quem mandou brincar com fogo?!” podem ser algumas das bárbaras conclusões inevitáveis a que os telespectadores serão levados à chegar.
Nós, em nossas casas, consumidores do que a televisão aberta nos
apresenta, não temos direito ao juízo crítico, porque o protocolo
básico das regras do jornalismo não é mais cumprido. Nós somos
atacados em nosso direito de receber informações e emitir julgamentos,
nós somos saqueados por emissoras privadas que mobilizam nosso
sentimento de medo, ódio e desprezo, para em seguida nos exigir
sorrisos com a  próxima reportagem.
Como um exercício de manutenção da capacidade de reflexão, precisamos
nominar esse tipo de ataque fascista com os termos que ele exige. A
ilusão de verdade deve ser desmontada, a suposta neutralidade deve ser
desmascarada, caso a caso, na medida de nossas forças.
Seguem questionamentos à reportagem, com o intuito de expor o arbítrio
de classe da Rede Globo, para que esse texto possa endossar a
documentação que denuncia a irregularidade das emissoras privadas e
protesta contra a manutenção de concessões públicas para empresas que
não cumprem com as leis do setor.
1º) Por que a Globo protege Dantas? Por que a emissora não tornou
evidente que as terras pleiteadas pelo MST para Reforma Agrária são de
Daniel Dantas? Qual o grau de envolvimento da emissora nas manobras
ilícitas do banqueiro?
2°) Por que o MST não foi escutado na reportagem? Quais os motivos do
movimento para decidir ocupar aquela fazenda?
 3°) As imagens contradizem os fatos. A câmera da equipe de reportagem
aparece sempre posicionada atrás dos seguranças da fazenda, e nunca à
frente dos sem terra.
E vejam informação da Agência Estado:“A polícia de Redenção informou
a Puty [Cláudio Puty, chefe da Casa Civil do governo do Pará] não ter
havido cárcere privado de jornalistas e funcionários da Agropecuária
Santa Bárbara, pertencente ao grupo do banqueiro Daniel Dantas e que
tem 13 fazendas invadidas e ocupadas pelo MST. Os jornalistas, porém,
negam a versão da polícia e garantem que ficaram no meio do tiroteio
entre o MST e seguranças da fazenda”
(http://br.noticias.yahoo.com/s/19042009/25/manchetes-pm-desarmar-mst-segurancas-no.html).
Quer dizer, nem mesmo os grandes jornais conservadores estão fazendo
coro com a cobertura extremamente parcial da Rede Globo.
4°) Ocorreu um tiroteio mesmo? Só aparecem os jagunços da fazenda
atirando, e com armas de calibre pesado. E a imagem dos feridos mostra
os sem terra baleados e um jagunço de pé, com pano na cabeça,
possivelmente contendo sangramento de ferimento não causado por arma
de fogo, dado o estado de saúde do homem.
5º) Por que os feridos não são tratados com o mesmo direito à
humanidade que as vítimas de classe média da violência urbana? Eles
não têm nomes? O que aconteceu com eles? Algum morreu? Quem prestou
socorro? Em que hospital estão? Por que essas informações básicas
foram omitidas?
 6°) Por que mostrar como um troféu a agonia de seres humanos
sangrando no chão, sem nenhum socorro?
É.

Últimas Notícias