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Sindicalismo Empresarial

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Por IELA em 04 de abril de 2007

10/04/2007
Por Glauco C. Marques – ex-diretor do Sinergia
10/04/2007 – Nos anos 80 havia uma polarização no movimento sindical. De um lado a CUT, propondo um sindicalismo classista, democrático, de massas, independente de governos e patrões, lutando por transformações sociais. De outro, a Força Sindical, com seu sindicalismo de resultados ou de “negócios”, integrado à lógica do capital, atuando como elemento de valorização da mercadoria força de trabalho, como “corretor” de salários, sem questionar o sistema vigente.
No início dos anos 90 se estabelece outra discussão: a de que o movimento sindical devia se abrir para a sociedade. Para a Força Sindical, isto significava um sindicato mais integrado às empresas, substituindo o papel do Estado na formação de mão de obra, ampliando seu papel assistencialista e investindo em “marketing”, com shows e sorteios de automóveis em datas comemorativas. Na CUT afloraram duas concepções: uma delas considerava o movimento sindical uma das instâncias de organização da população, onde os sindicatos, sem descuidarem da luta por melhores condições de salário e de trabalho, deviam se integrar nas lutas gerais dos movimentos sociais e da maioria da população, num processo de transformações profundas, referenciado na possibilidade de superação do sistema do capital.
A outra concepção centrava sua proposta na adequação do movimento sindical ao processo de reestruturação produtiva em curso e que os sindicatos deviam ter uma postura propositiva. A CUT promoveu neste período um curso no Instituto Cajamar, em convênio com a Universidade de Campinas, freqüentado por parte significativa dos dirigentes sindicais do país, com base na segunda concepção citada. Majoritária dentro da CUT, esta visão acompanhou as alterações ocorridas no PT, o qual retira de seu programa o socialismo como objetivo de sociedade a ser atingida e coincide com a aproximação desta central ao sindicalismo europeu, principalmente do italiano e do alemão, e com a filiação da CUT à CIOLS, confederação sindical mundial com sede nos Estados Unidos.
Neste início de século 21, há uma homogeneização de todas as centrais sindicais brasileiras (CUT, Força Sindical, CGT, etc…). A razão disto é que, abandonada a perspectiva de superar o capitalismo e eliminado o conceito de que a sociedade é constituída de classes sociais com interesses distintos, aos sindicatos só resta o papel de promover o “bem comum”. O fato de o Estado e a sociedade brasileira continuarem a ser dirigidos pelos interesses dos detentores do capital financeiro, industrial, do agronegócio e das grandes corporações multinacionais não se configura mais como um problema para este tipo de compreensão. Desprovidas de seu caráter de classe, até as demandas por salários perdem sua conotação política e de luta, e assumem um tom administrativo nas negociações entre sindicalistas e donos de empresas ou dirigentes de empresas estatais. As funções de sindicatos e sindicalistas, das empresas e de seus donos ou gestores, passam a se confundir.
Nesta lógica, o sindicato se comporta como mais um elemento constitutivo do processo de acumulação de capital, compondo a estrutura da empresa. Não é a toa que os sindicalistas cada vez mais se parecem, no discurso e na forma de atuar, com os executivos das fábricas ou empresas cujos trabalhadores representam. É interessante observar que esta visão de movimento sindical não é novidade. Sem desconsiderar as distintas referências teórico-filosóficas ou de estilo que orientam tal concepção, este modelo de sindicato existe na Europa desde o final dos anos 80, quando a onda neoliberal por lá se estabeleceu. Com exceções que confirmam a regra e alguns pólos de resistência, o fato é que o sindicalismo brasileiro, aí incluído em boa medida o dos eletricitários de SC, está hoje polarizado por esta visão de práxis sindical, a qual poderia ser batizada de sindicalismo empresarial.

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