Início|Sem categoria|Uma fissura no muro do império

Uma fissura no muro do império

-

Por IELA em 01 de fevereiro de 2005

Uma fissura no muro do império
O furacão Chávez no Fórum Social Mundial
Por elaine tavares/ jornalista no OLA/UFSC
01/02/2005 – Estes são tempos sombrios. O império avança, armado até os dentes, impondo dirigentes, políticas e até sonhos. Tem o poder da força bruta, acossa, oprime. Mas, nas “orillas” (margens) do terror, assomam gentes, dispostas a resistir, lutar, morrer até, como se vê no Iraque, que finca pé no seu direito de decidir sobre a própria vida. E, em meio a toda essa tormenta, aparece um homem. Não é que seja um deus. Não é que seja um salvador. Mas, sem dúvida, é mais um exemplo de que, a despeito de tudo, é possível não ficar de joelhos diante da força, é possível dizer não. O homem é Hugo Chávez, que, na cena política da resistência vem se somar a outro velho líder: Fidel, até então suportando, praticamente sozinho, o fardo de enfrentar o império.
E foi Hugo Chávez quem acabou sendo o grande brilho do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, já lotado de “figuras carimbadas”. Impossível não se render ao avassalador carisma do líder venezuelano. Chegou no estádio Gigantinho, onde o esperavam 15 mil pessoas – mais outras tantas ficaram do lado de fora, de olho nos telões – com uma ofuscante camisa vermelha, beijou a barriga de uma mulher sem-terra grávida e distribuiu beijos e sorrisos. Acompanhou com palmas as músicas cantadas para saudá-lo e hipnotizou a platéia com um discurso seguro, citando grandes líderes revolucionários como Mao, Che, Bolívar, San Martin, Fidel, Manuela Saenz, etc…
“Hugo Chávez é um líder de novo tipo”, saudou o jornalista Ignácio Ramonet. E foi a partir desse mote que o general venezuelano conduziu seu discurso. De novo tipo sim, disse Chávez, mas amparado em velhos tipos e tipas, principalmente em Simón Bolívar, o caraquenho que acabou virando o libertador, construindo a desvinculação de mais de seis países do jugo colonial espanhol. Chávez foi buscar outros símbolos da luta anti-imperialista como Sandino, Che, Mao, Manuela. Contou histórias como quem está chimarreando ao pé do fogo, cantou músicas revolucionárias, disse poesias e recuperou o pensamento de tantos outros lutadores da América e do mundo todo. Impregnou cada um ali no ginásio de um desejo revolucionário.
Alertou que não é nada fácil lutar contra o imério estadunidense, porque este está ferido de morte, já não tem quem defenda sua ideologia e, por isso, segue mais furioso, amparado no poder da força das armas. Disse que as mudanças têm de vir “a despacio” (devagar) e que é preciso ter paciência, disciplina e vontade de mudar. Apontou as vitórias da revolução bolivariana na Venezuela, os avanços na organização popular, na saúde, na educação, na comunicação comunitária. Falou dos desafios ainda a serem vencidos e da necessidade de a América Latina se libertar de verdade e de se integrar a partir de outro ponto de vista.
Para isso, Chávez tem propostas muito com concretas. Uma delas é a ALBA, contraponto que criou para enfrentar a ALCA, imposição dos Estados Unidos. “El primer de enero de 2005 llegó e se vió que el ALCA se fue al carajo”, bradou, entre gritos e palmas. A idéia de Chávez é de uma integração latino-americana que trabalhe a cooperação, a cultura, a vida na sua totalidade e não apenas no aspecto econômico das grandes corporações. É um pouco do que já está fazendo com Cuba. A ilha tem ajudado na saúde e na educação de forma decisiva. É um método cubano de educação que está sendo levado a cabo na Venezuela e mais de 20 mil médico cubanos estão vivendo no país, com uma proposta de medicina preventiva e familiar. Agora, o governo venezuelano colocou para andar o projeto da TV SUR, uma idéia de integração da comunicação latino-americana, que vai fazer com que a gente do sul do mundo possa – enfim – se conhecer. A idéia é fazer com que todas as pessoas possam ter acesso a informações sobre os países da América Latina, coisa que hoje não acontece. Só se sabe dos países vizinhos quando há alguma calamidade ou um crime bárbaro.
E foi nesse ritmo de propostas ousadas e originais que o presidente da Venezuela falou por uma hora e meia. Pediu que as gentes não tenham medo de se dizerem anti-imperialistas, anti-hegemônicas, anti-capitalistas e que é nessa luta que devem estar todos aqueles que sonham com um mundo novo. Disse que seu país está caminhando no rumo do socialismo, que há rotas a corrigir, que há muito por fazer, que não sabe nem se tudo isso vai dar certo. Mas, entende ele que é caminhando que se faz o caminho e a Venezuela vai desbravar o seu. Saiu do Gigantinho ovacionado, não como a última esperança branca, como um herói, mas como um homem de coragem que está ousando desafiar o império. Chávez é só mais um exemplo, como é Fidel Castro, de que na grande muralha de poder erguida pelos Estados Unidos, podem acontecer fissuras, pequenos buracos que, com a força do desejo de libertação repressado, podem romper o muro e apontar para uma vida justa, de cooperação, de liberdade e de integração real entre os povos. A história caminha, a despeito dos arautos do seu fim…

Últimas Notícias