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Venezuela busca mudanças na TV pública

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Por IELA em 11 de junho de 2008

Venezuela busca mudanças na TV pública

Por elaine tavares – jornalista
 
Em meio a tropeços do presidente Hugo Chávez, como foi o caso das declarações sobre as FARCs, a Venezuela segue avançando na busca de transformações estruturais. Uma delas é no campo da comunicação. O ministro do Poder Popular para a Comunicação e Informação, Andrés Izarra, tem caminhado por todo o país anunciando a proposta de um Sistema Nacional de Meios, que dará uma nova ordem para a produção de conteúdos da televisão estatal venezuelana. O projeto, que tem sido debatido em todos os pontos da Venezuela, tem como objetivo gerar, no âmbito dos meios públicos, um sistema que funcione de forma complementar e solidária. Segundo o jornalista Willian Castillo, vice-presidente de conteúdo da Venezuelana de Televisión, muitas vezes os perfis das emissoras se confundem e, de tal maneira, que elas esgotam os seus recursos sem que a população possa ter, realmente, um conteúdo diversificado. As exceções são a Telesur e a ANTV, que já nasceram com um perfil determinado.
 
É por isso que nasce a idéia de um Sistema Nacional de Meios que definirá os perfis de cada canal estatal para que a programação possa dar conta da universalidade de desejos e necessidades comunicacionais da população. Assim, os venezuelanos poderão ter a VTV como um canal informativo e de opinião, ou seja, o canal deixará de ser generalista. Já a programação de entretenimento que envolve musicais, esportes, filmes, telenovelas, será absorvida pela TVES. A TELESUR segue com seu perfil de informação internacional e integracionista. A Vive TV ficará centrada no desenvolvimento de novas experiências e participação dentro do Poder Popular, da experiência comunitária. Com esta divisão, os venezuelanos poderão contar com uma programação aberta muito mais diversificada e com opções bem delimitadas.
 
Conforme explica Castillo, até agora todos os canais praticamente repetiam as mesmas informações, os mesmos noticiários e, muitas vezes, sem a devida qualidade. Além disso, era comum ver duas ou três equipes de tevês estatais fazendo a mesma cobertura. Com esta racionalização, a idéia é ter muito mais fatos sendo cobertos porque as equipes estarão mais bem divididas. “Faremos uma cobertura solidária e já realizamos esta experiência no caso da soltura dos reféns das FARC. Telesur estava em um aeroporto, VTV em outro e a Vive TV apoiava a transmissão com várias equipes que podiam estar em muitos lugares ao mesmo tempo. Isso nos permitiu ter imagens da selva até o aeroporto de Santo Domingo, de Maiquetía, da chegada dos liberados a Miraflores e do hotel onde estavam os familiares. Foi possível fazer uma ampla cobertura desde os meios públicos numa grande tarefa de cooperação”.
 
Esta proposta não é unanimidade entre os venezuelanos e existem as críticas de que assim definidos os canais podem ter diminuída a participação noticiosa. Mas, para Castillo, o que vai acontecer é o contrário. A população terá muito mais qualidade na informação. Para garantir a qualidade técnica existe ainda a proposta de se criar uma Red TV, que será o organismo concentrador de todas as áreas de transmissão e transporte de sinal dos meios do Estado. “Isso significará melhorias para todas as emissoras. Assim, a VTV não precisará mais se preocupar se o sinal caiu, por exemplo. A Red TV será o organismo técnico encarregado de resolver este tipo de problema”.
 
O grupo que está à frente desta proposta acredita que, com o novo sistema, será rompido o paradigma do que comumente se conhece como televisão estatal. “Para nós é um rompimento porque a televisão estatal na Venezuela, ao contrário do que se vê na Europa, nasceu depois da TV privada. E qual é o mal? É que copiamos o modelo. A VTV, por exemplo, é uma cópia da cadeia estadunidense CBS, suas instalações foram concebidas como se fosse um canal privado. Agora, com a revolução bolivariana estamos buscando a construção de meios públicos diferenciados que possam oferecer programas televisivos de qualidade e com a nossa cara”.
 
É bom que se lembre que, na Venezuela, 85% da capacidade de emissão estão nas mãos privadas. São mais de 20 canais privados de TV contra dois estatais de alcance médio e apenas um de alcance nacional. Existem ainda 430 rádios privadas enquanto duas são estatais. Isso significa que o poder de comunicar na Venezuela está praticamente todo na mão da iniciativa privada, contrariando assim a informação que se espalha sobre censura ou domínio da comunicação pelo governo. E é justamente para fortalecer o direito da população de ter uma comunicação veraz e de qualidade que nasce o Sistema Nacional de Meios. “Não será uma competição com os meios privados, pois como se vê, eles tem a maioria. O que queremos, distante dos modelos consumistas, é fomentar tudo aquilo que convide à criatividade e à cultura. O povo venezuelano tem direito a uma comunicação pública de qualidade”, diz Castillo. O Sistema Nacional de Meios acaba também com uma certa competição que havia entre os canais estatais, coisa que era nociva, no entender do ministro Izarra.
 
Outro organismo que nasce neste contexto é o Instituto de Rádio e Televisão, que ficará responsável pela coordenação das políticas de produção dos conteúdos de comunicação. É que na Venezuela existe uma lei – a Lei Resorte – que dá prioridade e valor para a produção independente e comunitária. Para potencializar essa produção que já começa a crescer, o Instituto promoverá a criação de estúdios, a capacitação dos comunicadores e buscará os recursos para financiar as produções que serão feitas para veicular nos canais públicos. “É uma política social que envolve os comitês de usuários e a incorporação da comunidade no controle dos meios públicos e privados. Assim, o Instituto, com a participação direta de quem faz e quem usa, terá a seu cargo o desenvolvimento das grandes políticas, não só dos meios, mas de toda a comunicação”.
 
O ministro do Poder Popular, Andrés Izarra, acredita que com esta mudança será possível fazer uma televisão pública que tenha público, pois a sociedade venezuelana não quer ver uma televisão chata e aborrecida. Segundo ele, o sistema não é uma coisa pronta, ele está em construção enquanto se caminha. Para o governo venezuelano, o ano de 2008 marcará um processo de transformação e re-impulso da TV pública. “A melhor televisão que se possa fazer na Venezuela é a que se vai construir desde o povo. Não há outra forma”, finaliza Castillo. 

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