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A Bolívia e o gasolinaço

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Por IELA em 15 de janeiro de 2015

A Bolívia e o gasolinaço

A Bolívia e o gasolinaço
06.01.2011 – A Bolívia viveu nesta semana momentos de grande mobilização popular. Indignada com o Decreto 748, que ficou conhecido como “gasolinaço”, por conta de que aumentava o preço da gasolina em 83%, a população empreendeu uma série de manifestações com passeatas e trancamento de ruas, no tradicional modo de protesto da gente boliviana. Segundo os mais variados grupos que organizaram os protestos, a medida do governo de Evo Morales atentava sobre a economia popular em benefício das grandes empresas petroleiras, e isso foi considerado inaceitável.
Durante vários dias a população se expressou nas ruas causando mal estar no governo e apesar de os dirigentes declararem que os protestos eram coisa de “gente suspeita”, que estava financiado pela CIA, ou que não passavam de focos isolados, o governo recuou. Evo Morales foi à televisão e afirmou que o governo deixava sem efeito o decreto, porque decidira acatar a voz das ruas. 
O estopim para a mudança de rumo do governo foram as grandes marchas massivas que aconteceram nos últimos dias do ano de 2010 e nos primeiros de 2011. O povo de El Alto (as famosas Junta de Vecinos) desceu para La Paz em grande caminhadas, junto com professores, mineiros, trabalhadores têxteis, mineiros e até cocalaleiros, tradicionais apoiadores de Evo. Já estava marcada uma manifestação gigante para a frente da casa presidencial, na Praça Morillo. As gentes inclusive já estavam ensaiando o grito de “fora Evo”, a quem acusavam de traidor. Não foi sem razão que o governo recuou, afinal, quem conhece sabe: a força do povo alçado em rebelião na Bolívia é alguma coisa incontrolável.
Para os analistas de vários movimentos populares bolivianos o episódio deixa algumas lições. É preciso estar sempre de olho nas decisões governamentais e não permitir qualquer desvio neoliberal, ou medidas que beneficiem apenas as empresas transnacionais do petróleo que, de alguma forma, ainda controlam esse setor estratégico da economia boliviana. O episódio mostrou que ainda é preciso avançar muito no processo de soberania das riquezas minerais da Bolívia. Evo havia justificado o aumento porque a Bolívia ainda precisa importar muito petróleo, e o pouco que produz é desviado para fora, pelo contrabando.
Para os trabalhadores, camponeses e indígenas, o episódio do gasolinaço abalou bastante a confiança que depositavam em Evo Morales. Mesmo com a volta atrás, para alguns nada poderá ser como antes, pois o presidente mostrou que, em nome das empresas estrangeiras, pode arrochar o povo boliviano que já promete novas mobilizações na luta por melhorias salariais.
Para outros analistas a queda de braço do gasolinaço foi importante porque deu uma sacudida no governo que andava decidindo as coisas de cima para baixo, sem prestar atenção ao que diziam as ruas. Estas mobilizações mostraram que o povo está desperto e alerta, esperando atuar como protagonista da chamada “revolução cultural”. Qualquer medida que mexa na vida econômica do país de forma tão violenta como seria essa do gasolinaço precisa ser discutida com a população. Esta é uma lição a qual Evo não deve esquecer. Na história contemporânea da Bolívia, para ficarmos só no século XXI, desde o ano 2000 com a guerra da água, as gentes tem mostrado que não estão dispostas a serem manipuladas pelos dirigentes. Elas querem participar de maneira efetiva da vida do país e não aceitarão o papel de massa de manobra.
Agora o governo de Evo Morales precisa assimilar essa lição. O apoio do povo não é incondicional. Ele está calcado na própria capacidade de se sentir autor da história e não simplesmente ator, aquele que fala uma fala que não é dele. As decisões governamentais na Bolívia, ou se assentam pelo debate popular, ou encontram a oposição nas ruas.

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