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Evo Morales: "Que sejam presos os bloqueadores da economia nacional"

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Por IELA em 14 de março de 2005

Por elaine tavares – jornalista no OLA/UFSC
14/03/2005 – O que já se vislumbrava, aconteceu. O presidente boliviano – que insistia em acender uma vela a deus e outra ao diabo – decidiu seu rumo. Afastou-se dos movimentos sociais e deu a mão à velha ordem predadora que, desde a conquista, impera na América Latina. Respaldado pelo Congresso, e por parte da população que acorre à Praça Murillo para da-lhe apoio e pedir “mano dura” contra os trabalhadores em luta, ele se fortalece e reprime com rigor as manifestações que ainda são fortes em todo o país.
Na mídia, o destaque é para as manifestações de gente que pede paz. O foco da crise, que era a lei de Hidrocarburos e a privatização da água, se perdeu. Agora, o que comanda é a necessidade de dar fim aos bloqueios. A poucos importa saber que se os movimentos sociais forem derrotados, perde toda a Bolívia. A jogada de Carlos Mesa parece ter sido um xeque-mate. Agora, entre discursos emocionados no balcão do palácio, Mesa prepara uma resolução que vai regulamentar os bloqueios, como se fosse possível botar freio na manifestação de trabalhadores livres. Na verdade, conforme informou o vice-ministro da Justiça, Carlos Alarcón, vai caber à polícia desfazer todos os bloqueios, ou seja, é a velha lógica da repressão.
Mas, enquanto governantes e mídia insistem em dizer para a população que os trabalhadores são os vilões da história e se recusam a “recuperar a lucidez”, suas lideranças dão mostras concretas de que querem conversar e chegar a bom termo. Tanto que Evo Morales (MAS), Jaime Solares (COB) e outros tantos líderes de associações e sindicatos, estiveram no palácio presidencial para uma conversa com o próprio Mesa. Foram três horas de discussão e, ao fim, as lideranças saíram alegando que o governo se mostrava intransigente quanto às reivindicações. Mesa não quer, de maneira alguma, cobrar os 50% de “regalias” (que seria como uma taxa de imposto ou royaltys) das empresas petroleiras, e isso é ponto de honra para os manifestantes.
Sem acordo, as lideranças formaram o que chamam de “centro da luta” na cidade de El Alto, onde praticamente tudo está bloqueado. Lá, a população ainda tem mais um ponto de pauta: quer a retirada de uma empresa estrangeira que toma conta da água. Para a gente de El Alto, a água é um bem público e não pode servir como mercadoria para enriquecer estrangeiros. Nas cidades de Cochabamba e Yapacaní os bloqueios seguem fortes e as gentes insistem em manter a luta pela soberania da Bolívia e de seu povo.
Hoje à tarde (dia 11), lideranças ligadas a Central Obrera Boliviana se reúnem na universidade em El Alto para discutir os rumos da luta. Tudo indica que a coisa vai esquentar. O líder camponês Felipe Quispe, em entrevista ao jornal Página 12, da Argentina, disse que, se vier a “mano dura”, vai ser como uma chispa a disparar um incêndio. Afirma que Mesa enganou a população e vai seguir com sua atitude de “vende-pátria”. Já Evo Morales, dirigente cocalero e líder do MAS, analisa a crise como um ataque aos movimentos sociais. “O acordo de Mesa com o congresso revive a aliança feita por Goni (o ex-presidente Sànchez de Lozada), e deixa de lado a idéia de uma Assembléia Constituinte”.
Sobre a decisão do governo de endurecer com os “bloqueadores”, Evo Morales enfatizou: “Seria importante que o presidente prendesse primeiro os bloqueadores da economia nacional, que são o FMI e o Banco Mundial. Mas se fala de bloqueadores de caminho, que prenda a oligarquia que, inclusive bloqueou o aeroporto internacional. O certo é que, com esses aliados, Mesa vai mesmo é prender os dirigentes sindicais e camponeses que estão bloqueando estradas, com atitude patriótica, para que os recursos naturais do país fiquem nas mãos dos bolivianos. Essa é uma luta entre as transnacionais e a gente do povo que quer o seu país”.

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