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Furacão Irma e a gestão colonial da França

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Por IELA em 18 de setembro de 2017

Furacão Irma e a gestão colonial da França

Recentemente o furacão Irma, de categoria 5, devastou diversas ilhas do Caribe bem como o litoral da Flórida. Só no Caribe foram cerca de 19 mortos, dos quais 10 nas ilhas francesas de Saint-Martin e Saint-Barthélemy. As Ilhas, junto com a Martinica, Guadalupe e a Guiana Francesa, formam as regiões da América que ainda hoje estão sob o domínio da França. Saint-Martin, em particular, é um símbolo do anacronismo colonial que persiste em Nossa América. O pequeno território de tão somente 87 km² ainda é dívidido entre a colônia francesa de Saint-Martin e a colônia holandesa de Sint Maarten. Diante deste cenário, reproduzimos abaixo o Comunicado do MIR Martinica, o Movimento Internacional pelas Reparações, em que questiona a postura do governo francês frente à tragédia.
IRMA: Gestão colonial
As diversas imagens exibidas nos canais de TV, as múltiplas intervenções públicas dos ministros e até mesmo a proposição de certos jornalistas, corroboram para demonstrar o caráter colonialista e racista exibido pelo Estado francês no que diz respeito à gestão da catástrofe causada pelo furacão Irma em Saint-Martin e em Saint-Barthélémy.
É esse estado de espírito que sempre habitou todos os dirigentes da França, desde Colbert, (a escravidão), até a atualidade, passando, claro, pela departamentalização. Para os trópicos, o que quer que diga e o que quer que faça a República Francesa, exprime sempre bem o conteúdo desta frase: “Verdade deste lado dos Pirenéus, erro além” (Blaise Pascal). Estas palavras são infelizmente verificáveis ​​ainda hoje e especialmente no caso do furacão Irma.
Falar de despreparo, como é dito, de todos os observadores é ignorar a lógica colonialista que sempre guiou a França nas suas colônias. Se tal fenômeno ocorresse na Bretanha, em Aveyron ou na Córsega, as autoridades francesas teriam operado como o Estado federal dos Estados Unidos. O último, como Cuba, tomou medidas rigorosas para evacuar todas as áreas sensíveis com mais de uma semana de antecedência.
Se isso não aconteceu em nossas regiões em 2017, é porque existe uma ideologia que gera uma doutrina racista colonialista.
O Sr. Macron, em vez de se desculpar pelo fracasso de seu governo, como ele faria em regiões temperadas, vem em 12 de setembro de 2017 às terras tropicais de Guadalupe para mentir sem rodeios, afirmando que: “Somente 48 horas antes da passagem do furacão por Saint-Martin e Saint-Barth a França soube que o fenômeno era de categoria 5”. E, para nos desprezar ainda mais, vai alegremente a Saint-Martin e Saint-Barth para fazer uma campanha de comunicação através das ruínas das casas e das misérias das vítimas em plena desordem.
Tais comportamentos e profecias revelam que o atual presidente não é diferente dos seus predecessores quando se trata das colônias e do que nós que representamos para eles.
É vergonhoso que a República Francesa continue a nutrir alegremente em seu seio discriminações econômico-raciais que são semelhantes às formas do Apartheid. Seja em Saint-Martin, Guadalupe, Martinica ou na Guiana Francesa.
De qualquer forma, o furacão Irma terá revelado ao mundo e mais particularmente à Europa e aos seus habitantes o comportamento da França em relação aos “seus filhos” dos trópicos. Saint-Martin, considerado permanentemente como um Eldorado, que acolhe todas as estrelas ricas, políticos e outros empresários que se tornaram milionários, aparece brutalmente sob sua verdadeira face.
De um lado, mulheres, homens e crianças vivem na miséria. Todos os afrodescendentes, não têm acesso a moradias adequadas ou a um hospital. Esses últimos são herdeiros dos Saint-Martinianos autênticos que no passado fizeram a prosperidade da ilha dividida por Estados colonialistas e anteriormente chamada de Walachi pelos indígenas Tainos. Os Saint-Martinianos atualmente são minoria, enquanto seus antepassados ​​eram a maioria.
Por outro lado, milionários estrangeiros instalam crianças, parentes, amigos e amigos de amigos. Esses brancos chegam como querem, pois seu interesse está em outro lugar. Essas marcas de desprezo que passaram pela história parecem, no entanto, ter revelado um sentimento de vergonha no rosto da república, mesmo que seja apenas pela passagem do Irma. Esta vergonha, se pudesse realmente existir, só desapareceria se a França aceitasse reconhecer que toda vida é uma vida e que toda vida humana vale tanto quanto outra vida humana.
Mas Júpiter estará pronto para dar esse passo, ele que reconheceu que “a colonização é um crime contra a humanidade”. Este é o momento para ele reparar.
Nós devemos usar isto que atualmente não pode mais permanecer escondido do mundo pela França: sua política racial e colonial em nossos territórios da América, para forçá-la a respeitar a dignidade que carregamos como seres humanos. A partir de então, as portas se abrirão para a gestão do nosso destino por nós mesmos.
Nesta década, às pessoas de ascendência africana declarada pela ONU, cabe mover Júpiter e seus consortes. Nenhum cursor se moverá sem nós. Por isso, temos a oportunidade de mudar a lógica. Você tem que fazer isso!
Atenção! E cito Aimé CESAIRE: “O colonizador é uma astúcia da história”.
Não se deixe enganar! Para não modificar as antigas políticas de dominação racistas, Emanuel Macron já estabeleceu o quadro.
O resgate, segurança e reconstrução da ilha de St. Martin são e serão realizados sob olhar atendo de seus ministros por salva-vidas, socorristas, médicos, reforços policiais, etc., provenientes diretamente da França. A ilha está, portanto, sob constante vigilância… É só em segundo caso que eles vão chamar nossos especialistas desse tipo de catástrofe residentes na Martinica e em Guadalupe. Eles que já provaram seu valor na França em dezembro de 1999, no Haiti em 2010, na Dominica, em casa e em outros lugares do Caribe. Apesar de tudo, eles estarão às ordens de forasteiros.
Paradoxalmente, o colonizador tem tanto medo do despertar do colonizado que ele prefere mantê-lo longe dessas iniciativas para que suas falhas e erros não apareçam. Age assim por desprezo e arrogância.
Espero que tenhamos entendido a manobra colonialista e que deixemos de agir por impulsos, que abandonemos nossas ilusões para tirarmos grandes lições da catástrofe apocalíptica que atingiu Saint-Martin, Saint-Barth, sem esquecer Barbuda, Anguilla,… para termos em mente que chegou a hora de uma mudança de lógica e até mesmo bio-lógica.
NÓS SOMOS TODOS SAINT-MARTINIANOS!!!
Martinica – Caribe
15 de Setembro de 2017
Garcin Malsa – Presidente do MIR (Mouvement International pour les Rėparations)
 
Texto traduzido do Francês por Maicon Cláudio da Silva. Original disponível em: https/blogs.mediapart.fr/edition/memoires-du-colonialisme/article/160917/irma-une-gestion-colonialiste-par-le-mir-martinique
 

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