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Homenagem à mestre Nô

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Por IELA em 14 de outubro de 2015

Homenagem à mestre Nô

 

 dia 15 de outubro de 2015 marcará de maneira indelével a história da Capoeira na ilha de Santa Catarina. O reconhecido e amado Mestre Nô, educador popular e mestre da capoeira, exemplo e inspiração dos capoeiristas de Florianópolis, participa do lançamento do filme-documentário “Nego bom de pulo”, dirigido por Kiko Knaben, que conta a história da capoeira na ilha, marcada pela presença de mestre Nô, e também do lançamento do Livro “Cadernos de Capoeira: Capoeira da Ilha, história e constituição”, organizado por Fábio Machado Pinto, Joseane Pinho Corrêa, Danuza Meneghelloe Mestre Pinóquio. Além disso, Mestre Nô será homenageado com a proposta de outorga do reconhecimento de Notório saber e de Doutor Honoris Causa.  As atividades começam às 17h, no Auditório do CED.
A homenagem é promovida pelo projeto de Extensão Capoeira da Ilha/CED e pela Direção do Centro de Educação da UFSC, justamente no dia do professor, com o objetivo de marcar a aprovação, pelo CED/UFSC, do reconhecimento e título de Notório Saber ao Mestre Nô – Norival Moreira de Oliveira. O processo agora está no Gabinete da Reitoria da UFSC e será apreciado pelo Conselho Universitário, instância que possui a prerrogativa de outorgar o título. 
A batalha pelo título de notório saber
O processo (2308.077384/2013-34) foi protocolado em 19 de dezembro de 2013, tendo como requerente o professor doutor Fábio Machado Pinto, do MEN/CED e do PPGE/CED. Em março de 2015, depois de ter sido aprovado pelo Conselho de Unidade do CED, o processo precisou ser alterado, passando pelo próprio Mestre Nô e avaliado por uma comissão ampliada de doutores e especialistas no tema. Desta vez o processo passou em dois colegiados, sendo submetidos a mais dois pareceres e sendo aprovado por unanimidade em ambos: Conselho Departamental do MEN/CED e Conselho de Unidade do CED. Na sequência aproveitamos trechos do parecer da comissão que aprovou o reconhecimento no CED.
“Mestre Nô iniciou formalmente sua trajetória de ensino da capoeira ainda nos anos 1960, na Cidade Baixa, em Salvador, capital do estado da Bahia. Migrando por distintos endereços e denominações, todas elas vinculadas ao enraizamento histórico e social da capoeira, funda, em 1979, a Associação Brasileira Cultural de Capoeira Angola Palmares.
Embora já́ houvesse formado centenas de alunos nas experienciais anteriores, é a partir da Associação Palmares que o trabalho de Mestre Nô se potencializa e alcança patamares não apenas nacionais, algo que já ocorria, mas internacionais. Para além das aulas ministradas na Bahia – que ultrapassam os limites físicos da Associação Palmares, alcançando rodas de rua e praticas em outros lugares em que acontece a capoeiragem – Mestre Nô alcança representatividade efetiva nos planos nacional e internacional, vendo seus alunos como mestres, contramestres ou professores em todos as regiões do país, bem como nos cinco continentes. Além disso, a atuação de Nô se dá em diferentes âmbitos, como logo mais será́ relatado.
A capoeira é uma pratica que glosa as artes do corpo com música, jogo e dança. Está enraizada na história do Brasil, em especial naquela dos afrodescendentes, que a criaram e recriaram como expressão de diferentes ritos oriundos de distintas partes da África. Como é praxe nos processos culturais, a mescla é grande e incorpora também práticas ameríndias e mesmo de origem europeia – e, ainda que filtradas pelo africanismo, do Oriente Médio. A literatura sobre o tema é vasta e sua presença na vida universitária se faz notar tanto na forma de pesquisas de todos o tipo, com destaque para teses e dissertações em várias áreas de conhecimento, e em práticas de ensino (como disciplina é ministrada em vários cursos de graduação em Educação Física) e extensão (em diferentes projetos vinculados à cultura e educação populares). Não é diferente na Universidade Federal de Santa Catarina, que conta há décadas com projetos de pesquisa e extensão sobre capoeira, além da presença de disciplina com este nome no currículo regular do curso de graduação em Educação Física.
A capoeira, no entanto, não é matéria meramente acadêmica, mas antes pratica popular que encontrará, nas últimas décadas do século passado e inicio deste, seu lugar no ambiente universitário. Como exercício público, possui seus próprios ritos e códigos. Há na capoeira uma forma de conhecimento e sua transmissão que se não lhe são exclusivas, são-lhe bastante próprias. Trata-se, como outras formas de expressão corporal, de uma combinação entre mimese e técnica, espontaneidade e racionalidade, ambas calcadas em uma situação histórica e social especifica, mas com desdobramentos que não necessariamente correspondem à origem. Neste sentido, embora sejam proficuamente estudadas, as praticas da capoeira, ao comporem as artes do corpo, são objeto de conhecimento nem sempre conceitual, ainda que certamente não irracional. Da mesma forma, sua transmissão privilegiada se dá pela narrativa e pela aproximação mimética entre sujeito e objeto, como costuma acontecer nas experienciais de fruição estética. É nesse quadro que Mestre Nô se apresenta como um dos principais expoentes de sua história.
Exemplo de tal posição é o fato de Mestre Nô ter sido reconhecido como Mestre de Capoeira pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Ministério da Cultura, Governo do Brasil. Destaco a enorme presença de Nô nesta Universidade desde o final dos anos 1980, em seminários, oficinas, batismos (ritual de pertencimento de novos capoeiristas a um grupo), patrono e inspiração de projeto de extensão que desde meados daquela década se desenvolve.
Saber oral que atualiza e sintetiza outros saberes uma vez escutados e materializados em narrativas, mas também em praticas corporais que passam de geração à geração. Isso é um pouco da capoeira, prática cultural dos vencidos, mas não derrotados, na formação da nação brasileira, que precisa ser reconhecida e valorizada. A capoeira é patrimônio material e imaterial da nação e Mestre Nô é uma de suas personificações mais importantes. 
Não tenho duvidas sobre a pertinência de se outorgar o reconhecimento de Notório Saber, bem como o de Doutor Honoris Causa, duas honrarias acadêmicas, a Norival Moreira de Oliveira, o Mestre Nô. Não só́ ele seria honrado com esses títulos, mas também a UFSC e o Centro de Educação, em especial, ao conceder-lhe a honraria.
(Trechos do parecer final da comissão do CED aprovada em reuniões do departamento de Metodologia de Ensino e no Conselho de Unidade, no primeiro semestre de 2015. Alexandre Fernandez Vaz e outros)
“Foi preciso passar muito tempo para que essa usina de liberdade descesse lá do Nordeste, transpusesse a ponte e chegasse a Florianópolis. Mas, quando chegou, veio de braços dados com grandes mestres. Gente que trazia firme, no peito e na cabeça, a vontade de revirar e modificar a realidade. Nô, Pop, Calunga, Alemão e Pinóquio, mestres que formaram gerações. De repente, o berimbau invadiu o pátio do Educandário, onde viviam menores sem pais ou a gurizada pobre. Terreno fértil para essa prática de dança/corpo/liberdade. Dali, a capoeira foi para as ruas do Centro, onde vicejava a vida mesma. Na roda, com o canto ritmado e os corpos em viração, vicejava essa magia sobre a qual não se encontra palavras para descrever. Há que se deixar ficar, no molejo do som, na sequência do gingado para compreender. Só quem já viveu essa experiência, sabe.” (Elaine Tavares, 2014)
A capoeira de Florianópolis, essa que é narrada neste livro, tem um percurso tenso e contraditório, como em geral são as grandes experiências. Dores e prazeres, lutas em muitos planos, dentro e fora das rodas. A capoeira em Florianópolis é expressão das transformações da sociedade brasileira nos últimos quarenta anos, das novas faces da urbanização da capital de Santa Catarina. Conhecer esse jogo entre nós é também saber sobre a cidade em que ele acontece. Por isso este livro é tão importante, não apenas em seu conteúdo, mas na sua forma, ao combinar pesquisa e experiência afetiva em um único encadeamento narrativo. (Alexandre Fernandez Vaz, 2014)
(Trechos dos prefácios do CADERNOS DE CAPOEIRA n0 01)

Homenagem ao Mestre NôLançamento do Filme Documentário “Nego bom de pulo”Lançamento do Livro “CADERNOS DE CAPOEIRA: Capoeira da Ilha, história e constituição.” Data: 15 de outubro de 2015.Horário: 17h às 20hLocal: Auditório do CED
Organizadores:Fábio Machado Pinto e Antônio Alberto Brunetta (MEN/CED/UFSC) e Danuza Meneghello (CA/CEC/UFSC)
PROGRAMAÇÃO: 1.     Composição da mesa – 17h.2.     Abertura: Diretor do Centro e Reitora.3.     Exibição do Trailler do Filme “Nego bom de pulo”4.     Sobre o Filme: Kiko Knaben5.     Lançamento do livro: Fábio, Danuza, Contra Mestre Jô capoeira e Mestre Pinóquio.6.     Homenagem ao Mestre Nô: entrega de “placa” (Diretor de Centro e Reitora)7.     Fala Mestre Nô.8.     Música: Missiva e convidados (Moriel, Gerri)9.     Encerramento – coquetel.

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