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Quem controla os que controlam a informação?

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Por IELA em 01 de março de 2005

Por elaine tavares – jornalista no OLA/UFSC
01/03/2005 – Não é de hoje que a ficção se adianta ao futuro como se fosse uma antena a nos mostrar cenas do que virá. Por isso, é sempre bom ficar atento ao que diz a arte. Um exemplo disso é o filme Minority Report, estrelado por Tom Cruise. Nele, Tom é um policial do departamento de pré-crime, um setor da polícia que conta com três videntes – eles próprios prisioneiros – que conseguem visualizar crimes que ainda vão acontecer. Com base nessas visões, os policiais investigam e acabam prendendo o suspeito antes que ele cometa o crime. A discussão ética que permeia o filme é: até onde essa presumida previsão pode ser certa? Não haverá, para o suposto criminoso, qualquer chance de que ele mude o seu destino até minutos antes do crime? Como é possível alguém ser preso como assassino se não consumou o crime? E por aí se desenrola a trama, muito bem urdida.
Pois é, mas quem pensa que isso é só ficção se engana. O departamento pré-crime já está a todo o vapor. E funciona no único lugar do mundo onde isso seria possível: os Estados Unidos. Lá, está em andamento o projeto TIA (Total Information Awareness) , que significa conhecimento total da informação. Este será o mais gigantesco sistema de controle social jamais imaginado, chegando a superar o ficcional “Big Brother” de Orwell. O TIA é um sistema de inteligência global, planetário, que vigia o território dos Estados Unidos, mas também todo o resto do mundo.
Segundo o jornalista Thierry Meyssan, da Red Voltaire, o TIA será o ápice de um processo de controle das vidas humanas no planeta que já está em andamento. Ele lembra que tudo isso começou com a invenção da Internet, desenvolvida primeiramente (e sempre), com fins bélicos, pela ARPA, uma agência do Pentágono. O sistema hoje está composto por oito unidades e é dirigido pelo almirante John Poindexter, figura carimbada na Casa Branca, que, segundo Meyssan, esteve envolvido com o Irangate – tráfico internacional de armas e o tráfico de cocaína. Na época do escândalo ele chegou a ser condenado, mas o processo acabou anulado. Responsável pela segurança nacional no governo Reagan, foi ele quem introduziu as novas tecnologias na Casa Branca.
Mesmo com todas as acusações de traficante de armas e cocaína, o almirante John é hoje vice-presidente da sociedade Syntek Technologies, um braço do Pentágono, a mesma que construiu o programa informático Genoa, capaz de espionar qualquer base de dados informatizados no mundo. Ele também dirige a IAO (Information Awareness Office), um organismo oficial de investigação que controla as oito unidades de espionagem legalizada dos EUA. Com esse sistema, os Estados Unidos podem observar os comportamentos individuais de qualquer pessoa no mundo, detectar o que chamam de “atitudes suspeitas” e os perigosos “terroristas”. Ou seja, é o departamento de pré-crime, prospectado pela ficção do filme estrelado por Tom Cruise.
No texto “Conocimiento total de la informacion”, distribuído pela Rede Voltaire, o jornalista Thierry Meyssan mostra cada pedaço do sistema e aponta os responsáveis técnicos por eles. O TIA então, está formado pelas seguintes unidades:
1 – Projeto Genysis – torna compatível entre si as informações reunidas em todas as bases de dados públicas do mundo.
2 – Projeto Genoa II – desenvolve um programa de exploração clandestina nas bases de dados informatizadas.
3 – Projeto TIDES – traduz automaticamente para o inglês todas as línguas do mundo conectadas na internet.
4 – O EELD – Obtenção de provas e descobrimento de laços – sistema que interpreta as informações captadas pela rede, para ver quem está ligado a quem.
5 – O EARS – sistema cuja missão é transformar em texto escrito as comunicações orais interceptadas.
6 – A biovigilância – sistema que coleta informações que podem indicar a dispersão de agentes biológicos.
7 – O HID – sistema de identificação humana à distância – desenvolve procedimentos biométricos, com o uso de câmeras inteligentes, que permitem a identificação de “suspeitos” na multidão.
8 – O WAE – trabalha com a simulação de ambientes assimétricos.
Tudo isso forma o que o governo estadunidense chama de conhecimento total da informação. Com isso, tem o controle de tudo o que se faz e se diz no planeta. Um poder avassalador sobre a vida dos seres humanos que acaba de vez com a idéia de vida privada. Assim, se ao fazer um panfleto engraçado para divertir seus colegas de aula, você vir a sua casa invadida por um comando do exército estadunidense fortemente armado, não se surpreenda. Você agora sabe que está sendo vigiado, e, qualquer ato considerado “suspeito” pelos estadunidenses, põe a polícia do mundo em alerta nas suas sujas guerras preventivas. Se alguém lá, naquele país, sonhar que alguém em Biafra disse a palavra “terrorismo”, isso é motivo para uma intervenção de prevenção. Um guerra. Assim, sugiro que vejam o filme do Tom Cruise para ter alguma noção do pavor. É claro que, na ficção, tudo acaba bem. Mas, na nossa vidinha real, pode algo acabar bem? A pergunta que fica é: quem controla quem controla? Um paradoxo ou um desafio? Cabe aos povos do mundo saber e decidir!

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