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Segue o drama de Julian Assange

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Por Elaine Tavares em 23 de fevereiro de 2024

Segue o drama de Julian Assange

Foto: Adrian Dennis/AFP

Já se vão 15 anos da perseguição a Julian Assange, o jornalista que denunciou ao mundo os crimes de guerra dos Estados Unidos, revelando documentos confidenciais, memorandos internos, relatórios e vídeos do governo e dos militares dos EUA em 2010, que lhe foram entregues por Chelsea Manning. Nestes documentos as provas concretas dos massacres de civis, torturas, assassinatos, a lista dos prisioneiros levados para Guantánamo bem como as condições sub-humanas a que foram submetidos, além das Regras de Envolvimento no Iraque.

Por conta de uma ameaça de prisão por falsa acusação de abuso sexual, ele pediu asilo na Embaixada do Equador em Londres, onde ficou protegido por sete anos até que o presidente Lenin Moreno decidiu entrega-lo às autoridades britânicas. Desde aí tem amargado o cárcere, torturas de toda ordem e a ameaça de ser extraditado para os Estados Unidos, que agora o acusam de violar as leis daquele país por ter exposto os crimes que queriam ver escondido. É uma situação verdadeiramente surreal, afinal, quem está preso é Assange, enquanto que os autores dos crimes denunciados por ele nunca foram sequer processados, incluídos aí os pilotos do helicóptero dos EUA que mataram dois jornalistas da Reuters e outros 10 civis, como se pode ver nas imagens divulgadas no vídeo Collateral Murder.

Parece absurdo que Julian Assange esteja preso unicamente por ter feito seu trabalho de jornalista, que é investigar e tornar público o que alguns querem manter escondido, como é o caso dos crimes de guerra dos Estados Unidos. Mas, em se tratando do império estadunidense isso nada mais é do que o normal, afinal, cometer crimes e seguir impune faz parte de sua história. Desde o roubo das terras do México em 1848 que a ação imperialista se faz sem controle e sem punição, passando por guerras militares, invasões, guerras econômicas e toda sorte de pressão sobre os países que não se alinham com seus interesses.

Agora, Julian Assange tenta mais uma ação de apelação, depois de a corte britânica ter decidido pela sua extradição aos Estados Unidos. Provavelmente essa será a última cartada, pelo menos diante da corte de Londres. Caso a Suprema Corte não permita a apelação a saída será apelar para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem. Ainda assim isso não significa que ele não seja extraditado imediatamente como já decidiu a corte inglesa. Uma decisão que pode implicar na morte do jornalista, visto que essa parece ser a real intenção dos Estados Unidos. O intento é dar um recado bem claro: não se metam a querer denunciar nossos crimes (dos EUA).

O jornalista Cris Hedges, que tem feito a cobertura do caso Assange insiste que o processo movido contra o criador da Wikileaks é recheado de irregularidades que por si só já deveriam ter garantido sua soltura. Ele aponta que a empresa de segurança que atuava na embaixada equatoriana onde Julian esteve por sete anos entregou à CIA as gravações das reuniões entre Assange e os seus advogados, violando o sigilo entre cliente/advogado o que já garantiria o arquivamento do processo. Também denuncia que Lenin Moreno violou o direito internacional ao rescindir o status de asilo a Assange, permitindo que a polícia de Londres entrasse e prendesse o jornalista. Além disso, as razões que levaram ao pedido de prisão original de Julian Assange, acusado de abuso sexual, já caíram por terra, uma vez que Sigurdur Thordarson, fraudador e pedófilo condenado, admitiu ter fabricado as acusações contra ele. Logo, não há razão plausível para sua prisão.

O círculo de terror e de absurdos que envolvem a prisão de Julian Assange não tem fim, enquanto o mundo todo segue em silêncio sobre as barbaridades cometidas contra ele. Que direito é esse que permite a morte lenta de alguém que apenas fez seu trabalho? Como é possível que a Corte Suprema de Londres aceite a acusação de que Assange violou a Lei de Espionagem dos Estados Unidos, sendo que ele não é estadunidense, portanto não está sob as leis daquele país? Que poder é esse dos Estados Unidos que se julga capaz de prender, matar e desaparecer qualquer um que se interponha entre sues interesses?

O fato é que o destino de Julian Assange é sombrio. Apesar das campanhas pela sua libertação, os Estados Unidos não estão dispostos a abrir mãos de uma punição severa, servindo de alerta a toda gente. O calvário vivido pelo jornalista coloca por terra o conceito de direito, mostrando que no mundo capitalista/burguês a justiça é algo totalmente moldado aos interesses dos grandes.
O mesmo se pode dizer da ação dos EUA com relação ao massacre do povo palestino por Israel. Por quatro vezes, os representantes estadunidenses vetaram o cessar fogo em Gaza, permitindo o genocídio. Se nem um povo inteiro é capaz de frear a ganância dos EUA, que dirá um homem.

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