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Violência Mexicana – Uma das faces de um governo conservador

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Por IELA em 05 de novembro de 2012

Violência Mexicana – Uma das faces de um governo conservador
 Ser povo, viver com o povo e estar com o povo.  (Lucio Cabañas)
Por Maria Sirley dos Santos – Presidente da AELAC/BRASIL   
05.11.2012  – O México se apresenta como  fragmento de uma história mais ampla, uma história  de perdas e violências, que  vêm marcando a  vida do povo mexicano  até os dias atuais.. É uma história   de   evidentes tradições de violência e desamparo.Só a Revolução Mexicana  revelaria o verdadeiro ser dos mexicanos, um povo bom, carinhoso, lutador  e solidário.
Para Otávio Paz existem dois Méxicos que revelam uma relação da dialética e dos contrapontos:” a porção desenvolvida do México impõe seu modelo a outra metade, sem admitir que este modelo não corresponde a nossa realidade histórica, psíquica e cultural, mas é uma mera copia do arquétipo norte americano” ( Paz, Otavio  2000)
É sobre este cenário que tentaremos entender a violência de outubro de 2012 sobre a Escola Normal Rural Vasco de Quiroga de Tirepitio e sobre a Escola Normal de Cheran.
Na madrugada do dia 15 de Outubro, a invasão da Escola de Tirepetio,  e de Cheran, por forças repressivas  da Policia Militar do governo de Fausto Vallejo Figueroa, deixa um saldo de dor e de violência entre professores e alunos,  que assustados tentam fugir da crueldade com que os militares destruíam a escola, submetendo com extrema violência  seus professores e alunos, amarrando-os em um campo de futebol. Foram cassados por helicóptero ate serem presos, num total  de  mais de 200 pessoas extremamente feridas. A estrutura física da escola de Tripetio, foi submetida a grande destruição de seus monumentos, carros queimados por soldados que tentavam  esconder para penalizar os alunos,  alem de ser saqueada, tendo estudantes e professores roubados em seus pertences.
O pretexto para a invasão foi o fato dos professores e estudantes não aceitarem a Reforma Curricular, reforma esta que o Ministério de Educação tenta impor  através de um modelo pedagógico orientado para apagar a identidade destes alunos, promovendo ações pedagógicas recomendadas pelo Banco Mundial que ressalta o individualismo e legitima as desigualdades sociais; uma política a serviço das corporações internacionais lideradas pelo PRI e PAN velhos partidos que se mantém no poder a varias décadas.
Na verdade a destruição é de uma  proposta pedagógica, que forma professores conscientes politicamente e  altamente comprometidos com as transformações sociais necessárias a seu povo e lideres em suas comunidades.
Porém , é necessário ainda conhecer alguns princípios e conceitos que norteiam a ação pedagógica destas escolas, para se ter mais clareza do verdadeiro significado de tanta violência.
As Escolas Normais Rurais do México fazem parte de um projeto educacional que tem origem na Revolução Mexicana de 1910. Elas foram criadas para abrir oportunidades econômicas, políticas e culturais para os setores populares e realizar profundas transformações  na vida dos camponeses que sofriam um grande nível de exploração por parte dos Caciques proprietários de grandes quantidades de terra.
Os professores são formados para trabalhar nas comunidades rurais e são grandes lideres de um processo onde escola e família atuam juntos para construir novas relações sociais.
  Se instalaram nas antigas fazendas que passariam de local de exploração dos trabalhadores do campo,  para lugares onde se forma uma geração de professores filhos de camponeses. O teórico responsável pela proposta foi Rafael Ramirez que concretiza os ideais de Lazaro Cárdenas, com uma concepção  socialista vinculada à distribuição de terras. São escolas onde os alunos vivem em regime de internato,onde modelos de produção  criação de Gado, cultivos, oficinas de carpintaria e clubes culturais , as famosas “rondallas” se combinam com práticas de esporte  e disciplinas, como economia com orientação socialista e conhecimentos de problemas  que afetam a vida dos camponeses , assim como a crítica das soluções dadas pela legislação operaria e camponesa. Uma proposta  conscientizadora,  como  nos ensinou Paulo Freire.
Como podemos concluir , incomoda o governo de um país  capitalista , centrado na lógica do mercado,  com um perfil de submissão as regras do governo norte americano.
Os alunos e professores apresentaram alternativas curriculares que não foram aceitas e  serviram para  reforçar a destruição das instalações da  Escola  e soldados  queima de  ônibus da escola , responsabilizando os estudantes por esta ação criminosa.
A Escola Normal de Cheran, também invadida, é diferenciada pois  se destaca por formar professores que trabalham só em regiões indígenas do Estado , com povos originários Puhepécha, Nahua, Mazahue e Otoni. A  questão curricular para eles  é emblemática pois esta é uma das maneiras de fortalecer e resignificar a vida destes grandes povos. Os estudantes e professores também sofreram diversas formas de violência sendo presos na cidade de Uruapan.
Através de uma grande mobilização popular encabeçada pela Seção XVIII  do Sindicato Democrático dos Professores, que fizeram vigília permanente em frente ao local onde estavam presos e  convocaram uma marcha de mais de 40.000 pessoas, depois de alguns  dias presos os estudantes e os professores  foram libertados, pagando altas fianças e tendo que responder aos processos a que foram condenados.
Nossa América e nós como educadores não podemos nos  calar frente a esta violenta forma  de destruição de escolas, contra professores e alunos que lutam por seus ideais  de justiça, igualdade social e pelas necessárias formas de transformação que nossas  duras sociedades  necessitam.
Queremos e exigimos  respeito à dignidade de nossos povos, sua cultura  e o Direito   de serem livres e respeitados em seus valores e princípios.

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