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A luta pela água

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Por IELA em 27 de fevereiro de 2017

A luta pela água

Protestos no México contra a privatização da água

Cada dia que passa mais fica claro que as grandes lutas no mundo hoje passam pela proteção da água. A privatização desse bem social é mais um passo no avanço do capitalismo. Dominar as fontes de água é puro poder, já que esse é um líquido vital para a vida humana. E, na América Latina foram os indígenas da Bolívia que, no comecinho do século XXI, assinalaram com valentia o combate contra essa proposta descabida de privatizar a água. Foi essa proposta que levantou o povo de Cochabamba no que ficou conhecido como a “Guerra da Água”. Naqueles dias eles venceram, mas nos dias atuais os desafios estão cada vez maiores. 
Um exemplo contemporâneo, no norte das Américas, é a luta do povo Sioux contra a construção de um oleoduto que passará por baixo de um lago que abastece a região. A possibilidade da contaminação da água é absolutamente real e todos os laudos do corpo de engenheiros dos Estados Unidos já haviam determinado esse risco. Tanto que a obra foi suspensa. Mas, com a chegada de Trump ao poder, os laudos misteriosamente mudaram e agora tudo indica que o oleoduto vai sair. Os Sioux conseguiram mobilizar todo o planeta nessa luta que eles chamam de “proteção à água”.  Eles sabem que se o lago se contamina, alguém haverá de lucrar com isso, e não serão as famílias de Standing Rock.
Essa semana, no México, no estado da Baixa Califórnia, milhares de camponeses e militantes sociais também saíram às ruas para protestar contra a instalação de uma empresa estadunidense de produção de cerveja na comunidade de Choropo. Eles denunciam que a fábrica fará uso, em grandes volumes, da água que eles usam para a agricultura. Segundo as autoridades do lugar a empresa deverá produzir, em uma primeira etapa, mais de 10 milhões de litros de cerveja, o que configura uma ameaça para a comunidade e para os mananciais de água. 
Os camponeses que lideraram o protesto denunciam ainda que o empreendimento não têm as licenças ambientais e que as autoridades estaduais fazem vistas grossas. Causa muita preocupação a instalação da cervejaria visto que a comunidade está já há algum tempo com um limite de consumo de 45 mil metros cúbicos. “Se nos limitam a água, como vão garantir água para a fábrica? Ou será que nos limitam justamente para dar à fábrica”, dizem. Isso é a privatização e acontece em vários rincões da América Latina, onde comunidades inteiras se obrigam a mover-se para outros sítios por conta da falta de água.
No Brasil a privatização vai acontecendo devagarinho e sem alarde, com a entrega do abastecimento de grandes e médias cidades para as empresas privadas. Manaus é o exemplo mais emblemático, justamente por estar numa região rica em mananciais. No sudeste, a região de São Lourenço (próxima de três grandes capitais – São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte), onde fica uma gigante reserva de água mineral, perdeu o controle sobre as águas com a venda para uma empresa francesa, a Vittel Grupo Perrier, que, por sua vez, revendeu a região inteira para a Nestlé. Atualmente a Nestlé já tem uma empresa de engarrafamento de água dentro do parque aquático que antes era um espaço público. 
Outro caso emblemático é a descoberta de que o governo de Michel Temer, ilegítimo e golpista, colocou entre os bens privatizáveis do país o gigante aquífero Guarani, com 1,2 milhões de quilômetros de água, possivelmente o maior manancial de água doce do mundo. Na jogada estão os interesses da Nestlé e da Coca-Cola, multinacionais bastante conhecidas por sua capacidade de destruição das regiões por onde passam.
No nível micro, com a eleição de novos prefeitos agora em 2016, boa parte deles com o perfil de um gerente geral de empresa privada, esse processo também tende a se aprofundar, com ações de privatização do abastecimento e da captação. A mídia nada fala e as pessoas em geral não sabem o que acontece. 
É tempo de começar a mapear essas propostas e dar a conhecer à população. A privatização da água é uma ameaça à vida humana e caso se configure, colocará as comunidades no papel de reféns das empresas transnacionais que dominam os mananciais. Todas essas ações de privatização precisam ser enfrentadas com luta. Ou isso, ou estaremos mergulhando no mundo “Mad Max”, uma ficção cada dia mais real. 
Em Florianópolis, no sul do Brasil, algumas comunidades também estão em luta. A batalha é pelo saneamento básico que inexiste e faz com que toda a natureza pereça. As belas praias que movimentam o turismo estão cheias de merda e os governantes também estão na mesma onde de privatização do abastecimento e do saneamento. Uma ameaça que já está sendo enfrentada com mobilização e protesto. Os movimentos ainda são pequenos, mas com a informação circulando tendem a crescer. A intenção é impedir a contaminação dos mananciais de água doce que correm para o mar, protegendo a água que se bebe e também a praia. 
O importante é que os trabalhadores, que são os que sofrerão com as privatizações, atentem para as lutas mundiais e se conectem. A luta dos Sioux é igual a luta do Campeche, que é igual a luta dos mexicanos e por aí vai. A consigna de Marx sobre a união dos trabalhadores continua sendo a única possível nesse mundo de ameaças à vida.  

Protestos no Campeche, Brasil, por sistema de esgoto

 

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