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A proletarização estudantil como motor da revolução

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Por IELA em 22 de abril de 2020

A proletarização estudantil como motor da revolução

“O povo brasileiro embora pense, dance e cante como americano, não come como americano, não bebe como americano. Vive menos, sofre mais. Isso é muito importante, muito mais do que importante, pois difere os brasileiros dos demais. Personalidade, personalidade. Personalidade sem igual. Porém… subdesenvolvida, subdesenvolvida. E essa é que é a vida nacional” – Canção “O Subdesenvolvido”, de Carlos Lyra e Francisco de Assis, do disco “O Povo Canta”, lançado em 1961 pelo Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (UNE). 

Ah, que bom seria se a estudantada desse país subdesenvolvido consumisse a expressão cultural produzida pela UNE dos anos 60. “O Povo Canta” desloca o sentido comum da música popular, dos problemas puramente individuais para um âmbito geral: o compositor se faz o intérprete esclarecido dos sentimentos populares, induzindo-o a perceber as causas de muitas das dificuldades com que se debate”, como diz o editorial de 1961. 
Hoje, mal sabe o estudante em que altura a lama da crise cíclica do capital o está afundando. Já se foi o tempo em que o ideal capitalista de juventude era associado ao tempo livre, RocknRoll e pirraça. Os estudantes foram empurrados, pouco a pouco, para o processo de precarização do trabalho e o eventual desemprego.
A universidade brasileira, que já se encontra em decadência há muito tempo, é só mais um espelho que reflete como a guerra de classes se expressa em todos os espaços, até mesmo nos considerados mais elitizados. Elitizados de que jeito, se 70% dos estudantes do ensino superior público possuem renda abaixo de 1,5 salários mínimos?
A pandemia do novo Coronavírus evidencia ainda mais essa contradição. Em um momento em que o estudante é explorado em estágios ou bolsas de pesquisa, cultura e extensão, que pagam uma quantia insuficientes para manter suas condições de vida, a saída é conciliar isso com outros trabalhos nos setores mais precarizados da economia, como atendentes do McDonald’s ou entregadores de comida em aplicativos. Junto a isso, a massa estudantil vê suas futuras profissões sendo progressivamente degradadas e destruídas, sem perspectiva alguma de emprego. 
O problema começa primeiramente com a privatização do ensino, em todas as suas etapas: desde as creches até pós-doutorados ou qualquer outro diploma de pós a ser ainda inventado. O dever de educar é um dever do Estado. A garantia de sobrevivência digna de seu povo deve ser o objetivo principal de uma nação. Mas será que somos mesmo nação? Nos sentimos nação, para além do nacionalismo em abstrato? Em meio a tanta alienação, os limites são tênues demais para o proletariado que pouco quer saber das questões nacionais se sequer tem um pão para comer ao iniciar o dia.
No caso da universidade brasileira, o processo de privatização que se iniciou nos governos de Fernando Henrique Cardoso, será amplamente acelerado. O modelo assistencialista gestado nos últimos anos pelo petucanismo, vive agora no governo de Jair Bolsonaro o que talvez seja o estágio final de sua derrocada. 
O orçamento do Ministério da Educação foi bruscamente reduzido em R$22 bilhões em relação ao ano de 2019, juntamente com o das Universidades, com a redução de quase 8% em relação ao mesmo ano. Isso deixa explícito o projeto de precarização do ensino público, que se encaminha, pasmem, para a completa privatização do ensino superior.
A estudantada, majoritariamente de baixa renda, se depara com a absoluta ineficácia das políticas de permanência oferecidas pelas reitorias. As bolsas que, quando recebem, deveriam servir como auxílio para o desenvolvimento das atividades, na verdade cumprem a função de salário para grande parte dos estudantes.
Engana-se quem pensa que a crise só baterá na porta dos trabalhadores, pois não enxerga que atualmente os estudantes também são parte da classe trabalhadora. Aqueles que são os responsáveis pela produção da riqueza, dela não podem usufruir, pois são assaltados pelo próprio sistema em que estão inseridos. 
O que falta então para que os estudantes acordem para a realidade e se reconheçam como trabalhadores proletarizados? A organização enquanto classe, ora. As entidades estudantis devem reivindicar políticas de permanência emergenciais que dêem conta das particularidades do momento de pandemia, cobrando duramente as administrações universitárias. 
É preciso dar luz à crise vigente. Somente a partir de seu reconhecimento enquanto jovens proletarizados é que a organização, tão fundamental nesse e em todos os momentos da história, é que poderemos avançar na construção de um novo projeto de Universidade, juntamente com uma nova forma de organização da sociedade. 
É no seio da crise em que se encontra o motor das Revoluções. E o Brasil, nesse momento, precisa urgentemente de uma, pois apenas as revolução são capazes de reverter as crises e preparar a classe trabalhadora para a emancipação completa do povo. Já é chegada a hora de uma Revolução Brasileira, o terreno de batalha já está pronto para nos aprochegarmos de cabeça erguida na luta que certamente não será fácil, mas que garantirá nossa vitória definitiva.
 

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