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A TV e a luta de classes

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Por Gilberto Felisberto Vasconcellos em 13 de julho de 2023

A TV e a luta de classes

Foto: reprodução do Youtube

Lembra-me que causou indignação, ainda que superficial e cínica, uma moça sendo estuprada em tempo real no programa Big Brother. A igreja ficou chocada, o judiciário ficou chocado, o parlamento ficou chocado.
Que horror!

Já ouvi o povo chamar o programa de Big Pênis. O problema é que essa reação é pontual, a indignação não atinge a televisão como um todo. Ora, é pelo todo que se fisga a verdade, dizia o filósofo Hegel.

A televisão é um sistema de signos estruturada na corrupção. Digo estupro na acepção de sujar, maltratar e corromper. Não é preciso mostrar ao pé da letra o estupro, porque o telespectador é estuprado todos os dias pela televisão.

O estupro é o sadismo desejado pelos telespectadores masoquistas. O estupro é sem culpa. A marca da impotência do macho burro se narcisa pelo escândalo da fama. Com fama e dinheiro todos são estupradores virtuais. Ratinho. Jabor. Jô. Gentili, ainda que não os sejam na vida real.

O Big Brother Body parece Saló, a República capitalista pornô filmada por Pier Paolo Pasolini sobre a Itália fascista. As mulheres com pênis penetram o ânus dos homens malhados e sarados. Todos são culpados na carne e no espírito. A vítima se julga feliz. A repetição, a litania, o mesmo esquema do conformismo e da apatia.

Com o Big Zoiúdo a câmera é a da vigilância como a de Guantánamo. O regime carcerário. A tortura como sedução bolsonara.
A desgraçada e humilhante situação da mulher. Antes da infância e puberdade a menina foi plasmada pelo cabaré das crianças. Dir-se-ia que a Xuxa foi o Platão da meninada. Fora da televisão é a rapidez do coito dos oprimidos que não tem ócio por causa do regime de trabalho. A telenovela é uma jornada de trabalho de oito horas.

Luta de classes, molecada.

O que é um sistema de signos? O sistema de signos é a interação das partes que se juntam, daí a telenovela aglutinando-os. O bigodinho do Merval, o dedo do Jô, a boca da Janaína Pasca compõem um quadro indivisível.
As estrelas luxuosas da televisão não são a classe dominante da sociedade brasileira. A telenovela é uma patologia social psíquica (merda e amor) que deve ser suprimida por uma revolução socialista.

A esquerda brasileira que não estuda Marx considera a telenovela uma esfera do ócio (consumo), e não da produção. A burguesia industrial e comercial (inclusive financeira) é uma burguesia de telenovela em seu ânimo vital.
Que direito tenho eu de considerar a telenovela um câncer se todo mundo na sociedade a venera?
Se por acaso nas ruas eu pichar as telenovelas nas paredes, seguramente serei linchado.

A hegemonia cultural da telenovela é aceita e incontestada em todos os níveis da sociedade. Da favela à universidade, do estádio de futebol à Academia Brasileira de Letras, do parlamento à igreja.
Qual é a ideologia dominante hoje no Brasil? A da multinacional? A da burguesia bandeirante? A da burguesia imobiliária carioca? A da sertaneja agrobusiness?

Os pobres virtuais da telenovela inspiram piedade, ao contrário dos pobres reais.
A ideologia da televisão abrange as Forças Armadas.

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