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Caminho do Peabiru: verdades e mentiras

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Por IELA em 17 de outubro de 2023

Caminho do Peabiru: verdades e mentiras

Lideranças indígenas de Santa Catarina, juntamente com pesquisadores e professores de Santa Catarina e Paraná assinam o que chamam de “Nota de Preocupação”, endereçada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia (PPGAA) da Universidade Federal do Paraná (UFPR) por abrigar, na Semana de Antropologia e Arqueologia realizada este ano, um minicurso que, conforme o grupo, foi aproveitado para divulgar um falseamento da história.

O minicurso incluiu uma tese, entre outras, que vem sendo alardeada e difundida pelo vereador bolsonarista joinvilense, Henrique Deckmann, de que o Caminho do Peabiru – que unia o litoral catarinense ao litoral do Pacífico tangenciando Cusco no Peru – tenha passado por Garuva e Joinville, o que não tem qualquer comprovação científica, segundo estudiosos respeitados.

O vereador, buscando alavancar o turismo na região, chegou a criar uma rota turística – com dados inverídicos conforme pesquisadores – que foi respaldada em lei pela Assembleia Legislativa de SC, sancionada pelo governador Jorginho Mello em fevereiro deste ano.

Agora, em Curitiba, denunciam os pesquisadores, o vereador e seu grupo utilizaram-se da imagem respeitável da UFPR para simular que tal instituição de ensino superior apoia a tese falseadora dos catarinenses, gerando preocupação e repúdio por parte de vários profissionais como arqueólogos, geógrafos, antropólogos, historiadores, jornalistas e líderes indígenas guaranis que assinaram a Nota, entregue à UFPR e PPGAA em setembro.

NOTA DE PREOCUPAÇÃO

Nós, remetentes desta Nota, integrantes da comunidade democrática e progressista dos estados do PR e SC, acadêmica e não acadêmica, vimos através deste instrumento, externar nossa preocupação frente a um incidente antiético ocorrido na recente XIV Semana de Antropologia e Arqueologia 2023, durante o minicurso “Caminhos de Peabiru: Arqueologia, Turismo e Desenvolvimento Sustentável”, realizado em 21 de setembro.

O incidente aludido tratou-se do mau uso da imagem e prestígio da UFPR por parte do vereador Henrique Deckmann, de Joinville (SC) e seus assessores deste município e de Garuva (SC).

Após participar do minicurso, tal grupo fez diversas postagens em redes sociais, insinuando um apoio da UFPR e do PPGAA à sua tese peabiruana de que o Caminho passava pelos dois municípios, pertencendo à história de ambos, o que vem sendo firmemente contestado por estudiosos e pela comunidade indígena Guarani de SC e questionado também pela ALESC (, Assembleia Legislativa de SC).

Os deputados, informados dos erros da tese, a qual influiu danosamente na redação equivocada de uma Lei, irão realizar em breve uma Audiência Pública para tratar do assunto, como se vê na notícia a seguir.

https://anovademocracia.com.br/peabiru-ato-confirma-investigacao-sobre-lei/

A propaganda enganosa de uma suposta chancela da UFPR à tese errônea é grave e avilta o ambiente científico do PPGAA e da XIV Semana. Afeta também o próprio ministrante do minicurso, sobre quem o vereador e seu grupo insinuaram, nas postagens, uma presumida aliança e incentivo.

Em virtude dos fatos apresentados, pedimos à UFPR (PPGAA) anotar nossa preocupação, de modo que seja possível evitar ou prevenir novos atentados semelhantes a esta Universidade, que é um centenário e exemplar bastião científico do Brasil e da América Latina.

Saudações respeitosas e agradecidas!

OBS 1: Devido ao fato de deputados estaduais de SC já terem tomado medida severa (convocação de Audiência Pública) frente a condutas inadequadas anteriores do vereador e seu grupo, estamos enviando uma cópia desta Nota à assessoria legislativa da Comissão de Turismo e Meio Ambiente da ALESC.

OBS 2: Dentre os diversos conteúdos postados em redes sociais por H. Deckmann e assessores, celebrando um hipotético acolhimento de sua tese peabiruana errônea, por parte do PPGAA, estão as imagens a seguir, que incluímos a guiza de exemplo, já que não foi possível ter acesso a todas as postagens

Acima, Imagem 1: texto com foto postado pelo ministrante do minicurso sobre o Peabiru, A.Rocha, e reproduzido pelo vereador e grupo em redes sociais

Acima, Imagem 2: Vereador Henrique Deckmann ao lado do ministrante do minicurso, postada em rede social

Acima, Imagem 3: postagem no Facebook

Seguem nossas assinaturas

1) Henrique P. Schmidlin – advogado, pesquisador peabiruano pioneiro, ex-Curador do Patrimônio Natural do Paraná- Curitiba/PR
2) Rosana Bond – pesquisadora peabiruana há 30 anos, jornalista , 5 livros publicados – Florianópolis /SC(*)
3) Elizete Antunes – coordenadora da Comissão de Caciques Guarani de SC – aldeia Yaka Porã, Palhoça/SC
4) Gerson Gomes Leopoldino – cineasta guarani de SC, prêmio Kikito de cinema – aldeia Yaka Porã, Palhoça/ SC
5) Felipe B. Messias – indigenista, estudante de Antropologia, fundador da escola virtual CISA (Cultura Indigena em Sala de Aula) – Criciúma/SC
6) Fábio Krawulski Nunes- pesquisador da historiografia do Caminho do Peabiru em SC/Vale do Itapocu (fontes primárias, manuscritos dos séculos XVI e XVII) – Jaraguá do Sul/SC
7) Júlio Cezar Telles Thomaz- geógrafo, arqueologo autônomo ( Arqueologia Histórica e Pré Histórica paranaense e brasileira), pesquisador da UFPR ( Centro de Estudos e Pesquisas Arqueologicas, CEPA) – Piraquara/ PR
8) Jaci Rocha Gonçalves – filósofo, indigenista, mestrado em Jornalismo e Comunicação Social no CeSI ( Centro de Studi Internazionale, Roma, Itália ), doutorado em Teologia na Pontifícia Universidade Urbaniana, Vaticano, Roma, Itália), ex professor da universidade Unisul (SC), presidente do Grupo de Pesquisa Revitalizando Culturas, fundador do Instituto Biocultural Homo Serviens-Palhoça/ SC
9) Carlos André Dominguez – professor de Jornalismo na UFPel Universidade Federal de Pelotas/RS), autor do livro “Peabiru-Do Atlântico ao Pacífico”, de 2023, pós doutorado em Comunicação e Informação na UFRGS, jornalista – Pelotas/RS
10) Hamilton Serighelli – ativista social, integrante do Centro de Direitos Humanos e Memória Popular de Foz do Iguaçu – F. Iguaçu/PR
11) Zeno S. Crocetti – geógrafo, professor na UNILA (Universidade Federal de Integração Latino-americana), ex-presidente da Associação dos Geógrafos Brasileiros ex-pesquisador no Observatório de Comércio Internacional na Universidade de Luján (Argentina)- Foz do Iguaçu/ PR

 

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