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Dolores, a mulher da foto

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Por IELA em 15 de outubro de 2018

Dolores, a mulher da foto

Dolores está bem atrás de Zapata e Villa.

Há uma fotografia muito famosa de Pancho Villa e Zapata sentados na cadeira presidencial, que é talvez a foto mais famosa da revolução mexicana iniciada em 1910. Nessa fotografia há apenas uma mulher, quase invisível, atrás de Pancho Villa e Emiliano Zapata.
Mas, quem é essa mulher?
Pois ela é nada mais nada menos do que a “tocha da revolução”, a primeira mulher mexicana que disse: “é tempo de que as mulheres mexicanas reconheçam que seus direitos e obrigações vão muito além da casa”. Essa “tocha” nacional foi uma das que acenderam o fogo da participação das mulheres na onda revolucionária.
Seu nome é Dolores Jiménez y Muro, nascida em Aguascalientes, no ano de 1848. Foi professora e revolucionária mexicana, muito pouco conhecida na história do país. Desde muito jovem já tinha o hábito de perseguir ideais de liberdade, participando dos círculos liberais de San Luis Potosí, apoiando os ideais de Benito Juarez, e fazendo a resistência à invasão francesa e ao império de Maximiliano.  
Em 1901 colaborou na redação do programa do Partido Liberal Mexicano, no qual compartilhou a militância com Ricardo Flores Magon. Durante o regime de Porfírio Díaz participava de ações filantrópicas e isso lhe deu a oportunidade de aproximar-se dos trabalhadores. Foi assim que conheceu e denunciou a miséria e a exploração.
Esses anos seriam relembrados por Dolores quando escrevia um de seus textos produzidos na cadeia: “Desde aqueles dias compreendi que a revolução não estava longe, porque ideias de dor e coragem germinavam por todas as partes”.
Pouco depois chegou a cidade do México onde viu que milhares de cidadãos estavam se inscrevendo nos clubes políticos, de onde deveria surgir a revolução. Para lá foi. E no ano de 1904, quando começou a nascer no México o movimento antirreeleição contra Porfírio Díaz, ali estava a “tocha” prendendo fogo junto com muitas outras mulheres.

Nesse período ela editava o jornal “A mulher mexicana” e presidia o Clube Feminino Filhas de Cuauhtémoc, a partir do qual encabeçou um protesto contra a fraude sob a palavra de ordem com a qual ficou conhecida: “É tempo de que as mulheres mexicanas reconheçam que seus direitos e obrigações vão mais além da casa”.
Foi aí que Emiliano Zapata a convidou expressamente para unir-se nas fileiras do zapatismo onde então começa a desenvolver tarefas de professora, escritora, jornalista e oradora. E ainda que tivesse superado os 60 anos, acompanhou o caudilho em muitas campanhas do Exército do Sul.
Foi Dolores quem escreveu o preâmbulo do Plano de  Ayala, proclamado em 1911; um plano que sintetizava o programa zapatista, apontando a renuncia de todos os funcionários do governo e dos chefes militares, a desmilitarização das zonas ocupadas pelo exército, a expropriação e a distribuição de todas as terras e dos recursos naturais entre os camponeses e a liberdade de todos os presos políticos.
Foi nomeada pelo general Emiliano Zapata como coronela do Exército Libertador do Sul.
Dolores se destacou entre as mulheres, diferentemente da imagem popularizada das “Adelitas” na revolução. Ela fundava grupos políticos, organizava sindicatos, colocava em circulação jornais e revistas, discutia com os seus pares superiores, inclusive nos tempos em que as mulheres tinham status legal inferior.
Mais tarde, em 1917, fez parte da Secretaria de Educação, de onde impulsionou a primeira campanha de alfabetização, participando ainda das Missões Culturais.
Dolores Jiménez y Muro morreu em 1925 quando tinha 77 anos e naqueles dias, suas amigas e companheiras ainda a conheciam como a “tocha da revolução”. Ela soube como ninguém tecer laços entre as gerações que haviam enfrentado ditaduras e resistido à invasões, com a geração que abraçou a revolução de 1910.
Ganhou um lugar entre os generais da revolução, reunindo as ideias e redigindo documentos chave como o Plano de Tacubaya e o Plano de Ayala. Sua participação na revolução não passou despercebida. Ainda assim, a pouca visibilidade de sua figura não faz justiça a essa mulher valente que entrou na cidade do México naquele 1914, com os exércitos revolucionários de Pancho e Zapata.
Seu lugar na foto não é casual, sua contribuição à revolução está entre as fundamentais e é uma das pessoas que deveria estar em destaque nos textos da história do México.
A história oficial e esse já antigo costume de esconder a participação das mulheres nos processos históricos são os únicos responsáveis de que hoje alguém veja essa foto e, surpreendido se pergunte: quem é essa mulher atrás de Zapata e Villa?

Texto: La Teta Informativa (México) – tradução: elaine tavares
 

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