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Equador, a história como farsa

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Por IELA em 05 de fevereiro de 2018

Equador, a história como farsa

Após o referendo realizado neste domingo dia 04 no Equador, iniciaremos um novo movimento marcado pela morte do liberalismo de esquerda, a tragédia se encerra. No post diem, a vitória do SIM para todas as sete perguntas apontadas na Consulta, dá inicio a uma fábrica de pascácios que devem ruir com todas as conquistas e se inicia a farsa. Conquistas mínimas, mas pedagógicas para população.
 
Principalmente no que tange a relação entre Estado e comunidades indígenas, os últimos perceberam que só a representatividade legal foi pouco para que seus direitos fossem respeitados na totalidade. Logo, a mobilização é o caminho, agir e a partir da pressão social romper com tais estruturas que os prendem.
Agustín Cueva, nos anos 70, já nos oferecia algumas chaves para entender o autoflagelo da esquerda que atualmente apostou suas fichas em uma suposta “Revolución Ciudadana” sob o sustentáculo do neoliberalismo. Isto ficou bastante nítido nesta última Consulta do dia 04, tentaram domesticar o capitalismo doutrinando a população, dentre as sete questões apontadas nenhuma aclara o caráter central da política econômica daqui por diante e a população sequer tem a certeza se o que foi consultado será realmente validado no futuro.
 
As sete perguntas que permeiam as temáticas; corrupção, reeleição, reestruturação do Conselho de Participação Cidadã e Controle Social, prescrição de delitos sexuais, uso de minérios metálica, fim da lei da “plusvalia” e exploração do Parque Yasuní, movimentaram mais os ânimos dos políticos em manter o correísmo a partir da possibilidade de reeleição ou colocar um fim neste período, que com a população de modo geral. As políticas “melhoristas”, produtos da bonança petroleira, não passam desapercebidas pela população, por outro lado as críticas e denuncias que têm se realizado em torno do ex-presidente Correa não são exageradas, inclusive, foram muitas, fato demonstrado através da prisão de Jorge Glas que era vice-presidente de Lenín Moreno. 
 
Desde 2007, quando eleito, Correa foi muito elogiado por ter renegociado a dívida externa e conseguido com isso custear reformas importantes no Equador, além de ter aprovado em referendo popular a Constituição de 2008 onde o Estado se pautava na plurinacionalidade e também no respeito a natureza. Contudo, o país não ficou muito tempos longe dos empréstimos ao FMI, em julho de 2013 o FMI outorgava um novo empréstimo ao governo de Correa e em julho 2016 o Fundo Monetário Internacional emprestou repetidamente, USD 364 milhões ao Equador  como crédito internacional. O fracasso da Iniciativa ITT Yasuní também frustrou seu eleitorado, que objetivava manter o petróleo amazónico debaixo da terra caso os países centrais pagassem tributos ao Equador.
 
Assim sendo, as reformas políticas realizadas por Correa estiveram sempre circunscritas nos parâmetros de uma cidadania liberal, um chamado à refundação do Estado apenas em aparência, bem como um disciplinamento dos movimentos sociais, que durante este período, ao protestarem, eram criminalizados. A ideia era protestem sim, desde que não questionem minha forma de governar. Reformou-se o sistema político sem mexer na estrutura económica. Em 2012, guardada as verossimilhanças com o brasileiro,   Correa já assinalava as complexidades de realizar um governo que pintava com verniz vermelho o veneno e impedia, com medidas antidemocráticas, a resolução dos problemas. 
 
Nas eleições em 2017, vencendo com pequena margem o banqueiro Guillermo Lasso, Lenín Moreno não demonstrava romper com a modernização capitalista iniciada por Correa. Apesar disso, nos primeiros meses do seu governo notamos que possuía um estilo diferente de governar e não queria estar à sombra de Correa que passou a ditar mesmo à distância (Bélgica) o que considerava incoerente em Lenín.  Em meio a esta troca de farpas entre os dois candidatos, por vezes até infantilizada, a população também se dividiu; entre a alternativa de colocar um fim no “Correísmo” que se tornou um sinônimo de corrupção e iniciar reformas, que segundo Lenín, trará o país novamente a estabilidade.
 
O fato que é que ninguém questiona os limites do capitalismo na América Latina subordinada que necessita fazer frente ao capital internacional, o capitalismo dependente não será solucionado por uma figura presidencial. Incrivelmente Lenín Moreno agora está aliado ao banqueiro e a outros setores das alas declaradamente conservadoras do país. Interpretar a natureza do capitalismo sempre, em todos os movimentos anti sistêmicos que surgem com demandas especificas, mas que juntas demonstram o sofrimento humano nesta sociedade é a ordem do dia. Os especialistas da esquerda analisam todas as faces simbólicas, culturais, estéticas identitários, mas nenhum deles ou delas tocam na questão da luta de classe e principalmente a classe latino-americana ou mesmo na compreensão da burguesia que opera em todos os setores, banco, mídia, agricultura, exploração de recursos, etc. falam das políticas no vazio ou como dizia Cueva, em uma democracia restringida não é possível ter aprovação nenhuma, nem de intelectuais na sociologia enlatada e nem da população. Vivemos nas brumas da incerteza. 
 
Nem Correa, nem Moreno vão resolver os problemas da maioria, porque quem o resolve é sim a própria população que se mobiliza e arranca do Estado a sua forma de Buen Vivir ou Sumak Kawsay (Viver Bem). Assumir o status da luta de classes do nosso continente, como fez Guerreiro Ramos o sociólogo brasileiro, negro e de origem periférica, que reivindicou a nossa sociologia, “a das mangas de camisa”, é também uma forma de resgatar as mobilizações sociais indígenas no Equador, olhar para a história e não permitir nos condenar pela colonização, sintonizar nossas lutas com as novas consciências. Em tempos que a direita está nadando de braçada em quase toda América Latina, frente a uma esquerda sem projeto político emancipador, talvez não seja a hora de pensar quem é o mais competente na condução do subdesenvolvimento e sim tentar sair desta condição. 
 

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