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Maldonado: para não esquecer

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Por IELA em 25 de outubro de 2017

Maldonado: para não esquecer

De acordo com um relatório da ONG Global Witness (2015), cada dois dias um ambientalista é morto e quatro em cada dez pertencem a povos indígenas. 66 % de todos os crimes ocorrem na América Latina. O Brasil é o país que mais mata, com 50 óbitos.
Santiago Maldonado será mais um dentro desses números, morreu lutando por um povo esquecido; perseguido; silenciado. Sua morte desvela uma das partes dessa conjuntura quebrada, uma história que, outra vez, tentam invisibilizar. Além da lamentável notícia de sua morte e as possíveis causas da sua desaparição, acreditamos ser necessário entender o contexto que leva a Santiago a defender ao povo Mapuche na sua luta pela terra.
Santiago Maldonado apresentava-se como um companheiro não Mapuche que era capaz de entender e se solidarizar com as causas tanto de reivindicação territorial, como também pelo protesto levado a cabo por Facundo Jones Huala, encarcerado ilegalmente por incorporar a voz de seu povo, tais causas indígenas mobilizavam o companheiro Santiago Maldonado e atravessam, historicamente, partidos políticos e governos.
Esse conflito, que se arrasta violentamente por várias gerações, é a expressão mais crua da relação que o Estado mantém diante dos indígenas, tanto no Chile como na Argentina. Tal relação identifica no indígena o inimigo, o terrorista, tanto que se criam e aprovam deliberadamente leis de caráter antiterrorista pra “combater” o povo indígena, evidenciando a incapacidade politica de estabelecer um posicionamento justo. Mais uma vez a ideologia colonial e racial ordena os fatos, e hoje se vê representada na morte de Santiago, que viveu em primeira pessoa a violência do aparato estatal e governamental que cotidianamente sofrem as comunidades.  
A morte de nosso Santiago não é inócua, ela precisa nos ajudar a visibilizar casos como a pungente morte de Berta Cáceres, líder indígena assassinada em Honduras, seguida pelo assassinato (quatro meses depois) da sua companheira Lesbia Urquía ou Nilce de Souza Magalhães, assassinada por se opor a uma represa no Brasil, e tantos outros exemplos que podemos encontrar em nosso continente. Abrir caminho e visibilizar a luta que o companheiro Santiago Maldonado decidiu agregar é visibilizar a luta de Guaranis, Tobas, Mapuches e de todo um povo que sofreu e segue sofrendo a usurpação de suas terras. Com sentido de urgência, necessitamos repensar e descolonizar a nossa historia, por Santiago, por Berta e por cada ferida que temos aberta. 

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