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Seguem as colunas migrantes

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Por IELA em 22 de abril de 2019

Seguem as colunas migrantes

Colunas caminhando pelas estradas do México.

Milicianos caçam migrantes na fronteira

Durante a vida inteira as famílias pobres da América Central ouviram dizer que as oportunidades de uma vida melhor estavam num rico país do norte: os Estados Unidos. Vivendo entre guerras civis, ditaduras ou em situação de extrema violência, a imagem de um lugar onde seria possível trabalhar e vencer na vida acalentou sonhos e esperanças. Por isso, quando já não era mais possível aguentar, principalmente os jovens iniciavam a difícil travessia até a fronteira com os Estados Unidos. No geral, tinham de pagar muito caro para os chamados coiotes, gente especializada em levar migrantes para o lado dos EUA. São inumeráveis as hitórias de dor, violência e desespero dessa juventude sem outra esperança que não a miragem de um engano. E aos que conseguiam passar, o país das oportunidades se revelava como mais um espaço de miséria e violência. Pois aos migrantes ilegais  não resta outra saída que não seja o subemprego ou a incorporação aos cartéis de drogas. Claro que há os que conseguem escapar dessa teia, mas são poucos e só confirmam a regra.
Desde o ano passado os centro-americanos em fuga encontram uma nova forma de forma de fazer a travessia: em grupo. E foi assim que em outubro de 2018, mais de duas mil pessoas saíram em caminhada desde Honduras, passando por El Salvador, Guatemala e México, buscando chegar aos Estados Unidos. E a novidade foi tão bem vinda que, na passagem, a coluna ia arrebanhando mais gente. Andar em grupo protege as famílias que seguem com crianças, jovens e velhos. E ajuda a escapar dos coiotes. Quando o grupo chegou à fronteira já eram mais de quatro mil.
Mas, como todos sabem, passar para os Estados Unidos não é coisa fácil. As fronteiras estão fechadas para os pobres. A saída sempre é a ilegalidade. Naqueles dias a multidão tentou furar as cercas e encontraram o de sempre: violência, tiros, bombas de gás e aprisionamento. Ainda assim, as colunas seguiram surgindo. Para muitos, a possibilidade da prisão nos EUA pode ser melhor do que a morte que certamente vem nas suas comunidades de origem. Uma terrível contradição porque a miséria que vivem nos países da América Central tem tudo a ver com como os Estados Unidos impõem políticas econômicas e como as grandes empresas – geralmente estadunidenses – atuam nos países, baseadas sempre na superexploração dos trabalhadores. O que sobra é uma comunidade empobrecida, capturada pela violência do Estado e das famosas “maras”, que são gangues formadas por aqueles que não têm qualquer oportunidade a não ser enfrentar o vazio com o desespero do crime.
O círculo vicioso com os Estados Unidos é tão visceral que, segundo estudiosos, boa parte das gangues que se criam nos países da América Central é formada por jovens que já migraram aos Estados Unidos, vivenciaram o mundo do crime por lá, e, deportados, reproduzem nos países de origem o que aprenderam na grande matriz. Uma roda sem fim.
Na última semana novas colunas de migrantes assomaram nas estradas do México. Grupos de 1.500 a quatro mil pessoas caminham em direção à fronteira. Fogem em desespero dos governos títeres que devastam os países e as vidas.
Mas, lá na fronteira o que os espera é outro governo que não os quer. Não ali. O que interessa aos EUA é que fiquem nos seus países, servindo de mão de obra superexplorada para suas empresas. E a ordem é não deixar entrar. Algumas pessoas conseguem entrar legalmente, mas a grande maioria fica pela borda esperando uma brecha para passar em algum ponto dos rios ou pelo deserto.
Só que lá do outro lado da fronteira não estão apenas os guardas, direcionados aos milhares para os pontos mais frágeis. Agora também atuam grupos extremistas ligados ao presidente Donald Trump que caçam aqueles que conseguem passar a fronteira. Caçam, como bichos. E sem qualquer autoridade para isso, embora não sejam incomodados. Essa semana, a União Estadunidense pelas Liberdades Civis (ACLU) denunciou um desses grupos, autodenominado Patriotas Constitucionais Unidos, que tem vigiado a região da fronteira entre Anapra, Chihuahua e Novo México e realizado caça aos migrantes. Eles não apenas se arvoram a aprisionar os migrantes como ainda tiram fotos das pessoas nas situações mais humilhantes e publicam nas redes sociais.  
Eles também já gravaram como atuam. Perseguem os migrantes, gritam e obrigam todos a parar. Como estão vestidos como agentes da Patrulha da Fronteira as pessoas atendem às ordens. Obrigados a permanecer no chão, eles são depois entregues a patrulha verdadeira, não sem antes passarem por humilhações e serem expostos nas redes sociais. Segundo as denúncias esse grupo de “patriotas” tem atuado livremente desde fevereiro e promete ficar até que seja levantado o muro. A ACLU insiste que o governo tome medidas para coibir essas ações, mas até agora os agentes da lei tem feito vistas grossas.
A ação de milicianos na fronteira não é de hoje, mas, agora, com o elevado fluxo de migrantes, em grupos organizados, e a política extremamente racista do presidente Trump, esse tipo de ação tem crescido. O presidente diz publicamente que os EUA estão sofrendo uma invasão por parte dos centro-americanos e com isso incita os racistas a atuar. As milícias ganham força e o racismo se exacerba. E, mesmo que hoje os hispânicos sejam uma grande força dentro do país, ainda são vistos como seres de segunda classe. 
 
 
 

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