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Venezuela enfrenta a guerra econômica

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Por IELA em 26 de janeiro de 2015

Venezuela enfrenta a guerra econômica

O governo da Venezuela iniciou nesse final de semana uma ofensiva contra o que chama de “guerra econômica” promovida por parte do empresariado que estaria escondendo gêneros alimentícios bem como os de uso pessoal cotidiano. Durante mais de um mês a população esteve sem alguns artigos da cesta básica nas prateleiras dos supermercados provocando grandes filas nos locais onde ainda se podia encontra-los. Segundo fontes oficiais, o desabastecimento seria parte de um plano dos “maus empresários” que querem provocar a derrocada do governo. Já no sábado (24), na Avenida Bolívar, foi aberta uma feira gigante, onde as pessoas puderam comprar todos os artigos da cesta básica. O presidente Nicolás Maduro falou em rede nacional, prometendo que o abastecimento seria normalizado e que não havia necessidade de estocar alimentos. Ao todo foram distribuídas 100 toneladas de alimentos e vários pontos de distribuição foram abertos à população.
O vice-ministro de Segurança Alimentar, Carlos Osório, entrevistado na Vive TV, reconheceu que o país segue tendo muitos problemas com relação à produção de alimentos. Ainda não foi possível garantir o abastecimento interno e muito da comida precisa ser importada. Aliado a isso existem os que escondem os produtos, para provocar a correria aos mercados e a formação de longas filas. A mídia da oposição também ajuda atuando com alarmismo, informando que esse ou aquele produto vai faltar. “Ainda quando Chávez estava vivo ele sempre dizia que os armazéns do governo tinham de ter estoque para três meses, porque a produção de alimentos é deficitária e o país fica pendente de outros mercados. Estamos fazendo o possível para manter essa política”.
Osório ainda disse que o consumo alimentar na Venezuela também cresceu bastante nos últimos anos. A população pode comprar os produtos e consome mais. Segundo ele, em 1998, um venezuelano comia um total de 22 quilos de galinha, agora consome 48, e o país precisa acompanhar essas mudanças no perfil da população. Uma mudança que tem a ver com a revolução bolivariana, que deu possibilidades à população de se alimentar melhor. De qualquer forma, a produção ainda é um nó que o governo não conseguiu desatar. Apesar dos programas de crédito para os camponeses, o mundo da produção agrícola ainda é pouco eficiente. Mas, a crise do desabastecimento do último mês tem transformado esse tema na questão central.
Liga-se a televisão e é só sobre a produção agrícola que se fala. Do lado da oposição, as críticas são de que o governo não tem liberado crédito para empresários agrícolas que não se aliam ao bolivarianismo. Já o governo nega essa acusação dizendo que não consegue dialogar com parte desse empresariado. O vice-ministro tem deixado muito claro que o governo está disposto ao diálogo e a trabalhar com os “bons empresários”. Os que quiserem produzir para o país terão todo o apoio. Há promessa de novas linhas de crédito para a agricultura.
Apesar de o tema estar mobilizando a população, não se vê nenhuma intranquilidade no ar. Pelo contrário. Nas ruas de Caracas, as pessoas confiam que o governo vai estabilizar a situação. Oscar Flores, de 65 anos, trabalha como ambulante e não tem dúvidas de que as coisas vão melhorar. “Nós já vivemos muitas crises de abastecimento, e agora com o governo a favor do povo, vamos sair disso. Temos que confiar. Ontem o governo já colocou produtos nas feiras. Tudo vai caminhando”. Na esquina da Praça Bolívar, um grupo de aposentados chegou a montar uma barraca para assistir a entrevista do vice-presidente da nação, falando sobre esse tema. Ali eles conversaram com os passantes e ainda distribuíram materiais de apoio ao governo. Os venezuelanos que estão por dentro das coisas da política dizem que a oposição faz barulho, mas o governo tem conseguido dar respostas rápidas aos problemas.
Em um programa na Venezuelana TV, que é uma televisão pública, dois jornalistas discutiam a questão do abastecimento e insistiam na crítica ao governo. Segundo eles, existe uma crítica, desde a esquerda, que quer ajudar, mas o governo não dá ouvidos. “É preciso aceitar a crítica e desamarrar as tramas da burocracia, que é o que emperra muita coisa no governo”. Também falaram abertamente da corrupção que se expressa em vários escalões governamentais e exigiram que o presidente tivesse mão firme para desbaratar esses grupos que tanto mal fazem ao país.
Desgraçadamente a corrupção não está apenas nos espaços governamentais. A própria população entra na engrenagem, também incentivada pelo sistema financeiro. Um exemplo disso é o mercado paralelo do dólar. Nas casas de câmbio o valor é um, nas ruas pode ser até três vezes maior. Já se pode ver dezenas de cambistas pelas esquinas oferecendo preços muito atrativos pelo dólar. Dessa forma, o dólar não entra no sistema do país, o dinheiro venezuelano vai perdendo valor, e a inflação aumenta. Nessa ciranda, o próprio cambista está cavando sua desgraça. Os que ganham mesmo são os grandes atravessadores e o mercado financeiro.
Os desafios do governo Maduro são muitos. Ele não tem o carisma de Chávez, mas a população mais pobre sabe que só com os bolivarianos tem alguma chance de vida melhor. Ao longo de todos esses anos as crises foram resolvidas e há confiança de que mais essa seja superada.
 

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